A 270 km de Manaus, matriarca de aldeia indigena celebra chegada de barco-hospital em comunidade ribeirinha: ‘Sentimos falta de médico’


Atracado no porto de Novo Remanso, distrito de Itacoatiara (AM), embarcação com profissionais da saúde significa alívio para as famílias. No sábado (19), Dia dos Povos Indígenas, g1 visitou a aldeia. Voluntários do barco-hospital São João XVII visitam aldeia indígena no Amazonas
Brasil. Antes do país da bandeira verde e amarela, Pindorama era o nome dado à terra dos indígenas. Entre eles, os da etnia Mura, localizados a 270 quilômetros de Manaus, capital do Amazonas. A distância, no entanto, os afasta dos serviços de saúde. Por isso, a chegada do barco-hospital São João XVII, atracado no porto de Novo Remanso, distrito de Itacoatiara (AM), significou alívio para as famílias.
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O distrito mantém 15 aldeias, entre elas a Correnteza, às margens do Rio Urubu, com 46 famílias e mais de 130 indígenas. A terra foi homologada em 1994 pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), demarcada e protegida.
No Dia dos Povos Indígenas, celebrado no sábado (19), o g1 passou a manhã em visita à comunidade para vivenciar a gastronomia, a cultura e o cotidiano que mescla tradições e resistência.
Em casas de madeira, erguidas com as próprias mãos, sem paredes de cimento, sem chuveiro, sem televisão. A energia chegou, mas não do jeito que a conhecemos. A água é do rio. Os atendimentos à saúde também: nas águas do Rio Amazonas, o barco-hospital recebe as comunidades e oferece exames, medicações e cirurgias gratuitas.
Criança indígena com pintura facial na aldeia Correnteza
Desirèe Assis/g1
A embarcação é mantida pela Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, de Jaci, no interior de São Paulo, cidade que fica a cerca de 35 quilômetros de São José do Rio Preto, o maior município do noroeste paulista. Neste ano, a expedição acontece até o dia 25 de abril, em Novo Remanso, distrito que possui 15,8 mil habitantes.
Indígena da aldeia Correnteza, no distrito de Novo Remanso, em Itacoatiara (AM)
Desirèe Assis/g1
Ao g1, a matriarca da aldeia, Astrogilda de Carvalho Marques, de 76 anos, mãe do cacique, contou que planta ervas medicinais, extraídas da floresta, que curam, mas não resolvem tudo.
Por isso, salienta a importância do projeto, uma vez que, para chegar ao posto de saúde mais próximo em Novo Remanso é preciso atravessar 20 quilômetros de rio e mais 20 de terra.
“Sentimos muita falta de médico, para a nossa saúde, é difícil, não temos hospital, não temos médico direto. É preciso ir até Manaus, Itacoatiara. Temos que procurar outro meio. A gente quer agendar uma ficha para a gente ir lá, queríamos muito atendimento”, pede a matriarca.
Matriarca da aldeia Correnteza, Astrogilda de Carvalho Marques
Desirèe Assis/g1
Resistir, verbo diário
Pintura facil durante a celebração do Dia dos Povos Indígenas na aldeia Correnteza, no distrito de Novo Remanso em Itacoatiara (AM)
Desirèe Assis/g1
Mesmo diante de tantos desafios, o povo Mura resiste. Nas pinturas corporais, nos cantos ancestrais na língua Nheengatu, na dança em roda com os pés descalços no chão. Resistir é verbo cotidiano.
No dia 19 de abril, o cacique Elpídio Marques lembra que ser indígena é um ato político. Elpídio é o terceiro líder da aldeia, após o avô, primeiro cacique, que assumiu o trabalho em 1904, e o tio.
“Nós não deixamos nossa cultura morrer. A gente faz isso para fortalecer. Eu me sinto com satisfação. Conforme vai crescendo nosso povo, também vai ficando escasso, então, se a gente não fizer essa campanha de preservação, nós não temos como sobreviver”, detalha o cacique.
Cacique Elpídio ao lado da irmã, na aldeia Correnteza
Desirèe Assis/g1
Ao lado da aldeia Correnteza, vivem os indígenas da aldeia Makira. À reportagem, o cacique Sérgio dos Santos Medeiros, que assumiu a liderança aos 20 anos, pontuou que querem andar conforme o tempo, mas sem abandonar o que são.
“É uma data muito especial, porque fomos um povo muito massacrado no início, a nossa luta persiste, não é fácil, todas as vezes que a gente ‘corre atrás’ é uma luta. Falar que a gente existe e vamos resistir até o fim. Existe muito preconceito, mas temos que falar que somos indígenas. Nós éramos os primeiros aqui e vamos continuar”, completa o cacique.
Conheça a rotina do barco-hospital que atende comunidades ribeirinhas no Amazonas
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