Um caso alarmante de suposta negligência médica veio à tona no Rio de Janeiro, onde Luciene de Sousa, uma vendedora de roupas de 34 anos, alega ter perdido a visão, a audição e a capacidade de andar após uma cirurgia de implante de silicone nos seios realizada no Hospital Semiu, na Vila da Penha, zona norte da cidade. O procedimento, que deveria realizar o sonho de Luciene após anos economizando R$ 20 mil, transformou-se em um pesadelo irreversível, com sequelas devastadoras e uma luta por justiça que expõe falhas graves no sistema de saúde.
Segundo Luciene, que denunciou o caso em suas redes sociais, a tragédia começou na mesa de cirurgia, há dez meses, quando sofreu uma parada cardíaca. “Estava tudo escuro, pensei que estava morta. Pedi a Deus para não me deixar, pelos meus filhos”, relatou, em lágrimas, no Instagram. Ao acordar, a jovem enfrentava um cenário de horror: paralisia do peito para baixo, perda total da audição e visão gravemente comprometida. Como se não bastasse, a equipe médica teria negligenciado os curativos pós-operatórios, resultando em necrose nos seios. “Quando abriram, tinha um buraco no meu peito. Mesmo assim, me deram alta”, denunciou.
A prima de Luciene, Dandara Costa, revelou que a vendedora foi transferida às pressas para o Hospital Municipal Souza Aguiar, onde passou por duas cirurgias de emergência para retirada das mamas e enxertos de pele retirados das pernas e glúteos. “Ninguém explica o que aconteceu. Só disseram que ela teve uma parada cardíaca e ficou por isso”, afirmou Dandara, indignada com a falta de assistência e esclarecimentos.
Hoje, Luciene vive com sequelas gravíssimas: depende de uma sonda urinária, locomove-se em cadeira de rodas, recuperou apenas 70% da visão e permanece surda. “Não ando, não escuto, e ninguém sabe explicar o que tive. Só tenho ajuda da família e amigos”, desabafou. A família, após tentativas frustradas de diálogo com o hospital, registrou o caso como lesão corporal na 27ª Delegacia de Polícia, que abriu inquérito na quarta-feira (9/4).
A Polícia Civil já solicitou documentos ao Hospital Semiu e realiza diligências para apurar responsabilidades.
O hospital, por sua vez, adotou uma postura que beira o descaso. Em nota, afirmou que a médica responsável pelo procedimento não possui vínculo formal com a instituição, limitando-se a dizer que apenas cedeu o centro cirúrgico para a cirurgia, realizada “sob exclusiva responsabilidade” da profissional. A direção ainda destacou que “não houve queixas” sobre os recursos materiais fornecidos e que o hospital possui “toda a estrutura necessária” para procedimentos do tipo.
A resposta, fria e evasiva, ignora a gravidade do caso e a responsabilidade de fiscalizar quem utiliza suas instalações.
Um sistema que falha com os mais vulneráveis
O caso de Luciene é um grito de alerta sobre a precariedade do controle em clínicas e hospitais privados no Brasil. É inadmissível que uma instituição como o Hospital Semiu se isente de responsabilidade, tratando a cessão de seu espaço cirúrgico como uma mera transação comercial.
A falta de supervisão sobre os profissionais que atuam em suas dependências e a negligência no pós-operatório, que resultou em necrose, são indícios de uma falha sistêmica que não pode ser tolerada. Como uma paciente é liberada com um “buraco no peito”? Como uma equipe médica ignora curativos básicos em uma cirurgia de implante? Com informações de G1 e Correio Braziliense.
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