A proposta dos EUA para destravar as negociações de paz na guerra da Ucrânia colocou Kiev e seus aliados europeus diante de um impasse diplomático. Segundo fontes citadas pelo jornal The Washington Post, o governo norte-americano sugeriu reconhecer oficialmente a anexação da Crimeia pela Rússia e congelar as linhas de frente do conflito como parte de um acordo para encerrar as hostilidades. O tema deve dominar as conversas entre autoridades ucranianas e líderes europeus reunidos na quarta-feira (23) em Londres.
A ideia, apresentada à delegação ucraniana durante encontro em Paris na semana passada, inclui ainda a possibilidade de retirada de sanções impostas a Moscou no futuro. Em troca, o Kremlin encerraria os combates em um momento em que as forças russas mantêm vantagem militar em tropas e armamentos.
“Se não for possível, se estivermos tão distantes a ponto de isso não acontecer, então acho que o presidente provavelmente está em um ponto em que vai dizer: ‘Bem, terminamos’”, afirmou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, na semana passada.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reagiu duramente à proposta. Em declaração nesta terça (22), ele destacou que aceitar a perda da Crimeia seria inconstitucional. “Discutir a Crimeia e outros territórios ucranianos ajuda a Rússia, pois permite que Moscou continue a guerra, já que ‘não será possível chegar a um acordo sobre tudo rapidamente’”, disse o presidente ucraniano.

Além da questão territorial, Kiev e os aliados europeus tentam assegurar garantias de segurança e programas de reconstrução para a Ucrânia antes de qualquer concessão. Negociadores da França, Reino Unido e Alemanha devem reforçar esse ponto nas discussões em Londres, defendendo que parte dos ativos russos congelados seja usada para financiar a recuperação do país devastado pelo conflito.
Apesar da firme negativa pública de Zelensky, autoridades ocidentais reconhecem em conversas reservadas que a retomada por Kiev das regiões ocupadas pela Rússia, incluindo a Crimeia, parece improvável no curto prazo. Ainda assim, a proposta americana de reconhecer a anexação foi recebida com surpresa. Um diplomata europeu classificou os termos apresentados como “estonteantes” e afirmou que caberá aos ucranianos decidir se desejam ou não discutir a oferta.
EUA se ausentam de reunião
A insatisfação em Kiev cresceu após a confirmação da ausência de Rubio na reunião que ocorrerá em Londres. Horas antes de sua esperada chegada, o secretário de Estado desistiu da viagem. “O secretário Rubio é um homem ocupado”, justificou a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce. Já o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, que idealizou a proposta segundo uma fonte diplomática, também não compareceu, mas deve seguir para Moscou ainda nesta semana para novas conversas com o presidente russo, Vladimir Putin.
A iniciativa dos Estados Unidos ocorre em meio à frustração crescente do governo Trump com o ritmo das negociações. O próprio presidente americano afirmou que pretende divulgar os detalhes da proposta nos próximos dias. “A única coisa que parece ser permitida aos ucranianos é manter seu Exército”, afirmou um representante americano, expressando o tom de pressão que permeia o diálogo.
A proposta de reconhecer a Crimeia como russa reacendeu críticas entre os parlamentares ucranianos. “Se o que a mídia está noticiando for verdade, então é triste e perigoso”, afirmou a deputada Ivanna Klympush-Tsintsadze à agência Interfax-Ucrânia. “Isso significa que os EUA não estão realmente buscando uma paz justa e duradoura, mas sim querem relatar algum tipo de trégua temporária às custas de concessões ao agressor — e apresentar isso como uma grande conquista americana.”
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