
Filme que estreia nesta quinta-feira (24) é sequência da surpresa de 2016. Ben Affleck e Jon Bernthal são destaques do elenco. “O Contador 2” levou nove longos anos para chegar aos cinemas após o sucesso do primeiro filme, lançado em 2016. Tempo suficiente para que a sequência, que estreia nas telas brasileiras nesta quinta-feira (24), fosse bem trabalhada e oferecesse um bom longa de ação para o público, o que conseguiu. Porém, poderia ter rendido bem mais.
A continuação tem o raro mérito de trazer quase todos os envolvidos do filme original que estavam à frente e por trás das câmeras, uma história que consegue manter o interesse durante boa parte do tempo e uma direção que, se não é inovadora, pelo menos conduz tudo de maneira eficaz. Só não supera o que já tinha sido feito na primeira parte.
A trama é mais uma vez centrada em Christian Wolff (Ben Affleck), um contador que possui incríveis habilidades matemáticas, ao mesmo tempo em que tem outras qualidades como o manuseio de armas e conhecimentos de diversas lutas corporais.
Escondido depois dos eventos do filme anterior, ele volta à ativa quando Ray King (J.K. Simmons, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por “Whiplash”) é assassinado e a Diretora Adjunta do Tesouro dos EUA, Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), ex-parceira de King, pede ajuda a Christian para terminar a investigação que ele fazia antes de ser morto.
Assista ao trailer do filme “O contador 2”
Logo, o contador descobre que o caso é um pouco mais complexo do que o esperado e resolve, então, pedir ajuda ao irmão Paxton (Jon Bernthal, o Justiceiro das séries da Marvel), com quem não tem uma boa relação. Apesar das diferenças, os dois se unem para combater uma rede de assassinos que está disposta a tudo para impedir que seus segredos venham a ser revelados. Algo que vai deixar o desafio ainda mais difícil e mortal para os irmãos.
Liga Extraordinária
“O Contador 2” vai agradar ao público que quer assistir a um filme de ação que está mais preocupado em entregar boas sequências de tiro, porrada e bomba do que elaborar algo mais denso e profundo.
O diretor Gavin O’Connor, que também comandou o primeiro filme em 2016, mostra um trabalho esforçado para dar um bom ritmo às sequências de lutas e tiroteios, como a que abre o filme e, principalmente, no clímax que encerra o longa. Claro que não tem nada muito criativo, no estilo da franquia “John Wick”. Mas, pelo menos, consegue manter alto o nível de diversão.
O roteiro de Bill Dubuque, que também foi o responsável pelo texto da primeira parte, não escapa de alguns clichês do gênero de ação policial. Porém, ele também apresenta algumas coisas interessantes, como a expansão da ajuda que o protagonista recebe para realizar suas ações.
Se no primeiro filme, Christian só contava com o auxílio de Justine (Allison Wright no original e Allison Robertson na sequência) uma pessoa que era de espectro autista como ele, mas era extremamente habilidosa com tecnologia, agora há um grupo de jovens com a mesma condição dos dois, mas super dotados.
Paxton (Jon Bernthal) encara seu irmão Christian (Ben Affleck) numa cena de ‘O contador 2’
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Isso deixa a dinâmica, embora bem fantasiosa, bastante interessante. Além disso, mesmo com os exageros com que os autistas são mostrados, o filme jamais os ridiculariza ou desrespeita, o que conta como ponto positivo. Quem embarcar nessa proposta deve curtir um pouco mais o filme.
Outra coisa que o filme resolve trabalhar um pouco mais é a relação de amor e ódio entre Christian e seu irmão, Paxton. Como o longa anterior já tinha mostrado, os dois não conseguem se entender de imediato e as formas diferentes de verem as coisas rendem alguns momentos até divertidos.
Outras cenas soam até forçadas e dão a sensação de já terem sido vistas em outras produções, o que atrapalha um pouco a diversão, assim como os vilões, sem nenhuma personalidade e carisma. Pelo menos, o roteiro guarda uma boa reviravolta, que deve pegar muita gente desprevenida, no terço final do filme, e muda um pouco a dinâmica das coisas.
Christian (Ben Affleck) e seu irmão Paxton (Jon Bernthal) num momento de descontração em ‘O contador 2’
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Laços de família
“O Contador 2” poderia não funcionar ainda mais se os protagonistas não mostrassem o mínimo de entrosamento na tela e, felizmente, isso acontece bastante. Tanto Ben Affleck quanto Jon Bernthal se mostram bem conectados um com o outro e divertem com sua relação problemática.
Affleck, que também é um dos produtores, que já tinha feito uma construção interessante no primeiro filme para seu personagem com espectro autista, volta a chamar a atenção com sua performance que pode até causar estranhamento, mas que funciona a contento.
Dessa vez, o ator até faz rir com os pontos de vista de Christian, como numa cena em que participa de um programa de encontro às escuras e tenta usar seus conhecimentos matemáticos com as mulheres, gerando resultados hilariantes. Ou quando tenta se enturmar num bar country, mesmo com seu jeito travado.
Já Bernthal se mostra bem menos tenso do que no filme original e fica mais divertido, sem perder sua periculosidade, já que Paxton também se especializou em executar pessoas para viver. De qualquer forma, o ator garante bons momentos durante suas discussões com o irmão e quando tenta parecer mais esperto do que é, o que acaba gerando um humor inusitado. Por causa disso, não é muito difícil entrar em sintonia com Affleck tanto nas sequências de ação quanto nas cômicas.
Anaïs (Daniela Pineda) e Ray King (J.K. Simmons) conversam numa cena de ‘O contador 2’
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Além dos protagonistas, vale destacar a atuação de Daniela Pineda (de “Jurassic World: Domínio” ), como Anaïs, uma assassina de aluguel implacável, que marca presença sempre quando está em cena. A atriz se sai bem nas cenas de ação e de luta e compensa a falta de graça dos integrantes da quadrilha que os dois irmãos tentam destruir.
J.K. Simmons, embora apareça pouco, sempre se destaca com seu talento para interpretar policiais veteranos e tem até a oportunidade de sair no braço com criminosos, algo que raramente aconteceu em outros filmes que participou. Já Cynthia Addai-Robinson está apenas funcional como Marybeth Medina e, tirando uma ou outra cena cômica com Affleck e Bernthal, pouco tem a fazer.
É uma pena, no entanto, que Anna Kendrick, que interpretou Dana Cummings, a colega de trabalho de Christian, não teve espaço para voltar para a sequência. Seria interessante ver se houve alguma evolução na relação dos dois.
No final das contas (sem trocadilho), “O Contador 2” serve como um mero passatempo de final de semana para quem quer algo bem descompromissado e cheio de socos, pontapés e balas para todos os lados.
Pode ser que, em breve, surjam novas histórias envolvendo o personagem de Affleck, porque a ideia é bem interessante. Só precisa ser cuidada com mais criatividade e menos preguiça para sair do lugar comum.
Cartela resenha crítica g1
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