Brasileiro que trabalhava com o Papa Francisco cita privilégio de conviver com o pontífice e legado deixado: ‘Sentimento de gratidão’


Dom Cristiano Sousa, de Guaratinguetá (SP), participou da despedida presencial do Papa Francisco nesta quarta-feira (23). Corpo do papa Francisco é velado na Basílica de São Pedro em 23 de abril de 2025.
REUTERS/Hannah McKay
Foi no Vaticano que um brasileiro de Guaratinguetá, no interior de São Paulo, pôde vivenciar experiências junto ao Papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21).
Ao g1, o padre Dom Cristiano Sousa contou um pouco do convívio com o pontífice durante a prestação de serviços à Santa Sé.
“O primeiro contato foi quando eu ainda era estudante, há 10 anos. Ele visitou o mosteiro onde eu estava em Roma”, relembra o religioso.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Vale do Paraíba e região no WhatsApp
Alguns anos se passaram, até que a Santa Sé solicitou o serviço de Dom Cristiano, que além de doutor em Teologia, também é doutor em psicologia clínica.
“Por um período, a Santa Sé solicitou o meu serviço, também no meu período de estudante, quando estudava Teologia. Como eu sou monge beneditino e nossa faculdade é também um instituto litúrgico, nós temos uma ligação privilegiada com o Ofício Litúrgico do Vaticano”, contou.
Esse trabalho ao Vaticano durante dois anos aconteceu na época da pandemia da Covid-19. Apesar do estado de lockdown e um período de crise sanitária global, Cristiano conseguiu viver de perto ao lado de Papa Francisco.
“Ele sempre se mostrou um homem muito rígido, muito sério, de um caráter muito forte, muito decisório, mas profundamente espiritual, típico de um jesuíta. Eu diria que Francisco, além de jesuíta, tinha essa posição bastante argentina, nós que somos brasileiros conhecemos bem. Mas, ao mesmo tempo, um homem de profunda compaixão e misericórdia”.
Dom Cristiano Sousa é natural de Guaratinguetá (SP) e participou da despedida presencial do papa Francisco
Arquivo pessoal
‘Filhos órfãos em Roma’
Segundo o padre, a percepção nas ruas de Roma, na Itália, após a morte de Francisco é que as pessoas estão se sentindo órfãs.
“O que nós estamos percebendo aqui na Itália, nas pessoas em geral na rua, nos trens, nas conversas, nas filas, existe um sentimento de orfandade. É muito interessante: as pessoas projetavam nele uma paternidade, que deixou de existir”, resumiu.
Corpo do Papa Francisco é velado
Imagem cedida/Cristiano Sousa
Dom Cristiano contou ainda que a atuação do papa Francisco como pontífice abriu portas para que o homem se entendesse como ser humano.
“Ele não foi um homem que pregou doutrinas, embora nunca se afastou da fé católica, mas foi um homem que deu chaves de abertura para a humanização da igreja ou humanização da fé. E aí todas as religiões passaram a ver ele também, todos os homens de boa vontade, até os não-crentes, passaram a ver ele como alguém que tinha essa paternidade, essa liderança espiritual”, continuou.
Adeus a Francisco
A história de convivência de anos junto ao papa Francisco teve um ponto final para Dom Cristiano oficialmente nesta quarta (23), quando teve a oportunidade de se despedir presencialmente do pontífice.
“Ir lá, para mim, foi uma surpresa. Conhecendo como funciona o protocolo do Vaticano e sabendo que o próprio papa fez mudanças no funeral, simplificando, então eu sabia que não ia ter privilégios para estar lá”, contou.
Funeral do papa Francisco vai ser mais simples do que os dos antecessores; entenda
O padre estava participando de uma reunião de monges e houve um encontro com o cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e cotado para ser o novo papa. O convite para a missa de despedida ocorreu e Dom Cristiano conseguiu a oportunidade de se despedir de Francisco.
“Entramos pela porta dos cardeais, tínhamos esse privilégio, e entramos juntos com o cardeal Zuppi, e tem até imagens que estão correndo na internet, e de repente, do nada, eu saí de lá dessa celebração, e o meu WhatsApp estava bombando, eu não sabia disso”, contou.
“Primeiro de tudo, parecia que não tinha caído a ficha. Não só com relação à morte do papa, mas do privilégio de estar ali, lado a lado, e de repente, começou a passar um filme pela minha cabeça, um filme feito de cenas e de palavras, até que eu percebi que não era o filme, são vivências, são palavras que foram registradas na minha alma nesses últimos anos, palavras proferidas pelo papa Francisco. Então ali foi o momento que eu não consegui conter as lágrimas”.
“Durante a procissão de entrada da missa eu entrei chorando e só tive no meu coração durante toda a missa o sentimento de gratidão por ver este homem, um modelo de ministério sacerdotal a seguir, uma profecia que nós devemos continuar e também pelo privilégio de poder concelebrar uma das primeiras missas em sufrágio de sua alma, a missa de Corpo Presente, junto com os meus colegas monges e junto com o cardeal Matteo Zuppi, que era a pessoa de confiança do papa Francisco”, finalizou.
Papa Francisco acena a fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano, em foto de 21 de outubro de 2015
Alessandro Bianchi/Reuters
Veja mais notícias do Vale do Paraíba e região bragantina
Adicionar aos favoritos o Link permanente.