A morte do cantor paraense Gutto Xibatada, aos 39 anos, após complicações causadas pela monkeypox (Mpox) – também conhecida por varíola do macaco -, levanta uma série de questionamentos sobre a qualidade da assistência médica em Belém e reacende o debate sobre as condições precárias do sistema de saúde pública na capital paraense. O artista, conhecido por misturar forró com elementos da cultura regional, faleceu no dia 22 passado no Hospital Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti (PSM da 14), após cerca de um mês de sintomas e agravamento do quadro clínico.
De acordo com familiares, Gutto apresentou os primeiros sinais da doença há cerca de um mês. Nesse período, chegou a viajar para o Rio de Janeiro e Bahia. Ao retornar a Belém, procurou atendimento médico, foi medicado e recebeu recomendação de isolamento domiciliar. No entanto, a situação se agravou.
A irmã do cantor relatou nas redes sociais que Gutto teria escondido a doença inicialmente, mas que as lesões se espalharam rapidamente, afetando sua fala, visão e até a capacidade de se alimentar. Ele também era asmático, o que teria contribuído para a evolução crítica do quadro.
No dia 22 de abril, por volta das 9h30, a família acionou o SAMU e o cantor foi internado no hospital da 14. Gutto deu entrada já em estado grave e foi encaminhado para o Centro de Terapia Intensiva (CTI), onde faleceu por volta das 17h do mesmo dia. Segundo familiares, o cantor não recebeu monitoramento adequado, sob a justificativa de que as bolhas da doença impediriam a fixação de sensores. Também foi denunciada a falta de profissionais disponíveis para acompanhamento próximo do paciente.
Imagens que circularam nas redes sociais mostram Gutto deitado em uma maca em um corredor do hospital, supostamente antes de ser levado para o CTI. O caso rapidamente ganhou repercussão na internet, e um áudio atribuído a pessoas próximas da vítima afirmava que o caso estaria sendo “abafado” por autoridades do governo municipal em razão da proximidade da COP-30, evento climático internacional que Belém sediará em 2025. No entanto, essa alegação não foi comprovada.
Com a palavra, a Sesma
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) confirmou, em nota, que o cantor deu entrada no PSM da 14 e foi atendido por infectologistas. Após melhora clínica inicial, ele recebeu alta hospitalar com orientações para continuidade do tratamento em uma unidade de referência. No entanto, com a piora do estado de saúde, foi novamente internado no dia 22 e acabou não resistindo.
A Sesma informou ainda que foram adotadas todas as medidas clínicas recomendadas pelo Ministério da Saúde, incluindo o isolamento em leito específico. A pasta acrescentou que todas as pessoas que tiveram contato com o paciente foram monitoradas e liberadas após não apresentarem sintomas.
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) também foi notificada sobre o caso e acompanha a investigação, conduzida pela Vigilância Epidemiológica de Belém. A causa oficial da morte segue em apuração, com foco nas comorbidades pré-existentes e infecções oportunistas que podem ter agravado a doença.
Críticas ao hospital e cenário de abandono
A morte de Gutto também trouxe à tona críticas recorrentes à estrutura do Pronto Socorro da 14. Uma vistoria recente do Conselho Regional de Medicina (CRM) revelou um cenário alarmante: ambientes insalubres, leitos enferrujados, infiltrações, goteiras, falta de insumos básicos e profissionais sobrecarregados.
Segundo o CRM, a unidade registra uma média de 80 óbitos por mês, número considerado acima do aceitável para o porte do hospital.
Esta foi a terceira fiscalização realizada pelo CRM em menos de um ano, e os problemas persistem. A entidade classificou a situação como “grave” e alertou que a omissão de autoridades públicas coloca pacientes e trabalhadores em risco contínuo.
Sobre a doença
A monkeypox, hoje oficialmente chamada de Mpox, é uma zoonose viral causada pelo vírus MPXV, da família Orthopoxvirus. A doença pode ser transmitida por contato próximo com lesões, fluidos corporais ou objetos contaminados, além de contato com animais infectados.
Os sintomas incluem febre, dor de cabeça, inchaço nos gânglios linfáticos e erupções cutâneas. Casos graves podem levar à morte, especialmente em pessoas com comorbidades, como era o caso de Gutto, que sofria de asma.
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