Caciques partidários podem anunciar a criação de federações entre União Brasil-PP e PSDB-Podemos, consolidando ainda mais a força do Centrão no Congresso Nacional. Quem ganha com isso?
Brasília – Em um ano legislativo que mal começou, registrando um dos piores desempenhos da história na aprovação de projetos, com Senado e Câmara dos Deputados “trabalhando” com o freio de mão acionado, a próxima semana poderá trazer um tsunami político que se formava há meses. Esse movimento poderá varrer a atual configuração de forças no Congresso Nacional e consolidar ainda mais o domínio do chamado Centrão nos rumos da política nacional, com o anúncio da criação de duas megafederações: uma composta pelo União Brasil (60 deputados) e Partido Progressistas (49 deputados), e outra pelo PSDB (13 deputados) e Podemos (15). Atualmente, PSDB e o nanico Cidadania (4 deputados) já compõem uma federação na Câmara dos Deputados.
Ainda falta o PSDB bater o martelo sobre a nova federação, como declarou Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB, que marcou uma reunião semipresencial da executiva do partido para terça-feira (29), às 10h, com o objetivo de sacramentar a fusão com o Podemos.
Da mesma forma, detalhes ainda precisam ser superados na fusão entre União Brasil e PP, envolvendo a disputa pelo comando da eventual federação. O ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais articuladores da aliança, esperava assumir a presidência do grupo.
Segundo integrantes dos partidos envolvidos, foi acordado um sistema de rodízio na liderança: Antonio Rueda, presidente nacional do União Brasil, deve ocupar o cargo inicialmente, e, em seguida, a presidência passaria para Arthur Lira.
Entretanto, o deputado alagoano estaria insatisfeito com a mudança e defende que o acordo original seja respeitado.
PSDB-Podemos
O ex-governador de Goiás e presidente nacional do PSDB tem pressa. Ele quer anunciar a fusão na próxima terça-feira (29) e espera que o Podemos faça o mesmo.
Se aprovada a pauta da reunião, Perillo adiantou que convocará uma convenção partidária para aprovar o novo estatuto, a ser realizada entre 30 e 40 dias após a reunião.
Perillo disse já ter conversado com os principais líderes, governadores do partido e as bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado, informando sobre o avanço das negociações: “Da nossa parte já está tudo decidido, e da parte do Podemos também”, afirmou.
Depois da convenção do PSDB, que deverá ser realizada no final de maio ou no começo de junho, será convocada outra convenção, desta vez conjunta com o Podemos, para escolher o novo diretório e a nova executiva. Segundo Marconi, tudo será feito “meio a meio” e com rodízio no comando da nova sigla.
O tucano afirmou que os líderes da legenda também vão trabalhar na elaboração de um novo programa, “avançado e concentrado nas necessidades do Brasil”, com vistas em 2026.

Segundo Perillo, as conversas avançaram com o Podemos porque as negociações que estavam sendo feitas com outros partidos – como PSD, MDB, Solidariedade e Republicanos – resultariam na extinção do PSDB. Contudo, ele disse que continua dialogando com o Solidariedade e o Republicanos sobre a possibilidade de uma nova federação.
“O PSDB tem um legado enorme. São mais de 35 anos mudando o Brasil com reformas estruturantes em várias áreas. Um partido com essa história não pode desaparecer, e nós tivemos essa preocupação o tempo todo”, declarou.
O PSDB, que já presidiu o país em dois momentos com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, perdeu protagonismo, desidratou e caminha para a extinção, caso não adote outro rumo.
União Brasil-Partido Progressistas
O União Brasil e o Partido Progressistas devem anunciar uma megafederação também na próxima terça-feira (29). Antes, na segunda-feira (28), o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, participará da reunião da bancada do partido na Câmara, por volta das 17h, para acertar os detalhes da aliança.
Na federação, os partidos devem se manter unidos por quatro anos. As siglas continuarão com seus nomes e diretórios, numa junção mais flexível do que a fusão ou a incorporação.
Há arestas a aparar no União Brasil, tanto nas bancadas do Congresso quanto nos diretórios estaduais. Um dos contrariados seria o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que lançou sua pré-candidatura à Presidência em 4 de abril, embora o ministro do Turismo, deputado federal licenciado e presidente da legenda no Pará, Celso Sabino, tenha declarado recentemente que “o ato de lançamento da candidatura de Caiado é individual, sem apoio do partido”, expondo um “racha” dentro da sigla.
Outro atrito é a disputa pelo comando da eventual federação. Arthur Lira (PP-AL) quer assumir a presidência do grupo assim que sua criação for anunciada, em detrimento de Rueda, que hoje preside o União Brasil.
Republicanos caiu fora
Em reunião da bancada federal em fevereiro, o partido Republicanos (44 deputados) decidiu rejeitar a possibilidade de formar uma federação com PP e União Brasil, enterrando o sonho de algumas lideranças do Centrão em reunir mais de 150 deputados e 17 senadores. Caso se unissem, as legendas passariam a ter superpoderes no Legislativo, com uma bancada bem superior à do PL, que possui a bancada mais numerosa na atual legislatura.

Cerca de 90% da bancada foi contrária à união temporária com as legendas presididas por Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União). A obrigação de atuação conjunta local por quatro anos pesou na decisão.
A reportagem apurou que, na verdade, o que está por trás da decisão do Republicanos em não se unir ao União Brasil-PP são divergências políticas. O presidente da sigla, deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), não vê motivo, ao menos por enquanto, para o partido sair da base de apoio do governo Lula. A sigla controla o Ministério de Portos e Aeroportos, considerado uma pasta de pouca relevância e orçamento.
Outro motivo seria a decisão do governador de São Paulo, também filiado ao Republicanos, de disputar a reeleição estadual em 2026, desistindo da candidatura presidencial, como desejavam setores ligados ao bolsonarismo.
Quem ganha com isso?
Naturalmente, o chamado Centrão, uma organização política que não existe formalmente, mas que é composta por deputados de várias legendas. No cômputo geral, é quem reúne a maioria dos votos para aprovar qualquer projeto na Câmara dos Deputados.
Se União Brasil e PP confirmarem a federação, teriam uma das maiores bancadas do Congresso: seriam 108 deputados e 13 senadores – caso nenhum congressista deixe os partidos.
A federação ultrapassaria o PL na Câmara, atualmente com 91 deputados, e também a federação que reúne PT, PCdoB e PV, que soma 80 cadeiras.
Isso daria mais poder de negociação às siglas durante as votações, na distribuição de relatorias e de comissões, no acesso a um fundo partidário bilionário, além de pavimentar o caminho para a escolha de um eventual candidato presidencial na corrida eleitoral de 2026.
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