O aumento da presença militar de grandes potências no Ártico reacendeu na Islândia o debate sobre o fortalecimento de suas defesas e a possibilidade de retomar as negociações para ingressar na União Europeia (UE). Sem Forças Armadas próprias, o país, que é membro fundador da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), depende de alianças internacionais para garantir sua segurança, uma situação que volta a ser questionada diante da nova dinâmica geopolítica na região. As informações são do The Wall Street Journal.
A primeira-ministra islandesa, Kristrun Frostadottir, anunciou que pretende realizar até 2027 um referendo sobre a adesão ao bloco europeu. Segundo ela, a decisão virá após o governo concluir a revisão da atual estratégia de defesa nacional, tema que se tornou urgente à medida que atividades militares em torno da ilha passaram a ser mais frequentes.
“É importante que o debate sobre a estratégia de defesa aconteça, porque a atividade militar às vezes passou despercebida na Islândia”, afirmou Frostadottir. “Tem sido desconfortável falar sobre isso.”

Desde 2014, com a intensificação das tensões entre Rússia e países da Otan, os EUA voltaram a operar na base aérea de Keflavik, nos arredores da capital Reykjavik. Aviões americanos especializados em rastrear submarinos e caças de outros países da aliança realizam patrulhas na chamada “lacuna Groenlândia-Islândia-Reino Unido“, uma das principais rotas navais para submarinos nucleares russos que buscam acesso ao Atlântico Norte.
Enquanto outras nações nórdicas — como Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca — ampliam seus investimentos em defesa, a Islândia mantém o histórico de não possuir Exército. A guarda costeira, responsável pela vigilância marítima, passou a desempenhar um papel maior, incluindo a administração da base de Keflavik e dos sistemas de defesa aérea.
“Nunca houve apoio público na Islândia para ter um Exército, e não acho que isso vá mudar num futuro próximo”, disse Frostadottir. “Mas isso não significa que não possamos ter defesas ativas e alianças sólidas.”
As movimentações no Ártico coincidem com o aumento das desconfianças entre Washington e Bruxelas, alimentadas por políticas adotadas durante o governo de Donald Trump, como as ameaças de aquisição da Groenlândia e as tarifas contra a Europa. Essas tensões contribuíram para que parte dos islandeses voltasse a considerar a aproximação com a UE como uma alternativa estratégica.
Liderando um partido social-democrata que defende a integração europeia, Frostadottir afirma que o futuro referendo não deve ser encarado como uma escolha entre os EUA e a Europa. “Acho importante que, embora o elemento de segurança, é claro, seja levado em conta, não intimidemos as pessoas a aderir à UE”, declarou.
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