
Mulher foi detida após pedir asilo nos Estados Unidas. Em depoimento, ela denuncia ter sofrido diversos tipos de assédio. Tarlis Marcone de Barros Gonçalves, mulher trans que ficou presa na ala masculina em Guantánamo.
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Uma mulher transgênero brasileira foi detida após pedir asilo nos Estados Unidos e acabou sendo presa na área masculina da prisão de Guantánamo.
Em depoimento à Justiça norte-americana, Tarlis Marcone de Barros Gonçalves, explica que chegou no país no dia 15 de fevereiro e foi detida por autoridades de imigração dos EUA quando cruzou a fronteira com o México, perto de El Paso, no Texas.
“Um agente me perguntou se eu assinaria uma ordem de deportação, mas recusei porque temo pela minha vida no Brasil”, contou Tarlis, em depoimento.
Dias depois, ela foi transferida para o Centro de Processamento do Condado de Otero, no Novo México, onde teria ficado até o fim de fevereiro em uma unidade com quase 50 homens.
A mulher afirma que disse aos agentes que é uma mulher transgênero e que se sentia desconfortável por estar alojada com homens, mas nada foi feito. Ela também denunciou estar sofrendo assédio nos corredores e na cela.
Após o período em Otero, foi algemada e levada para embarcar em um avião militar. Somente ao pousar ela descobriu que estava em Guantánamo, em Cuba.
“Fui alojada em um quarto com cinco homens, como se eu fosse um homem. Disse aos guardas que não me senti confortável ou segura sendo alojada com homens, mas eles não se importaram nem fizeram não”, disse Tarlis.
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Falta de privacidade e abuso
Além de ter sido colocado em uma sela com homens mesmo sendo trans, Tarlis conta no depoimento que sofria com falta de privacidade a todo momento.
Segundo a brasileira, toda vez que ia ao banheiro ou tomava banho, estava à vista de todos, porque não havia porta. Ela também contava com somente uma muda de roupa.
Ela afirma ter pedido repetidas vezes aos supervisores no local para ser protegida por ser transgênero e para entrar em contato com sua família e seu advogado, mas seus direitos foram negados.
“Os guardas lá não me tratavam como um ser humano. […] Toda vez que eu saía ou voltava para dentro era revistada por guardas do sexo masculino”, afirma.
Também havia muito pouca comida e Tarlis conta que sentia fome constantemente.
No início de março, a mulher foi transferida novamente, agora para Miami. Atualmente, ela está detida em Pine Prairie, Louisiana, em uma cela isolada.
“Tenho medo de ser morta se for enviada de volta ao Brasil. Gostaria de ter a chance de apresentar meu caso e de me reunir com a minha família nos Estados Unidos com segurança”, conclui.
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