Números levantados pela jornalista Daniela Lima, da Globo News, porém, levantam dúvidas
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), citada pela jornalista Daniela Lima em transmissão ao vivo na GloboNews, ontem, revelou que 35 mil aposentados registraram queixas em canais oficiais do governo, como o site consumidor.gov.br, afirmando terem recebido depósitos em suas contas sem solicitação.
A informação, segundo o jornalista Cláudio Dantas, foi usada por Lima para sugerir que fraudes em empréstimos consignados, que totalizaram R$ 90 bilhões em 2023, seriam muito mais expressivas do que as relacionadas a descontos indevidos de mensalidades associativas, estimadas em R$ 6,3 bilhões. Mas será que os dados sustentam essa narrativa?
De acordo com o relatório do TCU, integrante do voto do ministro Aroldo Cedraz e já julgado pelo plenário em 2024, as 35 mil reclamações referem-se a descontos considerados indevidos, sem distinção clara entre fraudes em consignados e descontos ilegais de mensalidades associativas.
O acórdão, disponível para consulta pública, não estabelece uma conexão direta entre os R$ 90 bilhões em empréstimos concedidos e fraudes específicas, limitando-se a apontar, por amostragem, que algumas entidades utilizam a oferta de consignados como isca para filiar aposentados, prática que pode configurar venda casada.
Essa falta de clareza, segundo a análise de Cláudio Dantas, dificulta afirmar que as fraudes em consignados superam as de mensalidades associativas em escala. Comparar os valores totais de empréstimos (R$ 89,49 bilhões) com os descontos de mensalidades (R$ 6,3 bilhões) para sugerir uma hierarquia entre os tipos de fraude pode desviar o foco do problema central: os descontos não autorizados, que representam o verdadeiro prejuízo aos aposentados.
Além disso, o consignado não é a única ferramenta usada por golpistas. Serviços como planos de saúde, assistência jurídica e clubes de descontos também são oferecidos para atrair vítimas, que muitas vezes desconhecem os descontos associados.
Embora fraudes em consignados sejam um problema conhecido, misturar serviços contratados com descontos indevidos pode comprometer investigações, incluindo uma possível CPI e apurações da Polícia Federal. A estratégia de ampliar o debate para incluir instituições financeiras e correspondentes bancários, conforme aponta Dantas, parece mais uma tentativa de diluir responsabilidades do que de esclarecer os fatos.
O foco, segundo ele, deve permanecer nos descontos ilegais, que demandam rigorosa investigação para proteger os aposentados.
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