
Uma nova ameaça silenciosa está se espalhando pelo mundo: fungos microscópicos com potencial mortal, presentes no solo, no ar e até mesmo no corpo humano. Eles estão por trás de infecções difíceis de diagnosticar e ainda mais difíceis de tratar. As informações são da CNN Health.
Torrence Irvin acredita que inalou esporos do fungo Coccidioides em junho de 2018, enquanto relaxava em seu quintal em Patterson, Califórnia. A infecção quase o matou. “Passei de um homem de 130 kg para um esqueleto de 68 kg”, contou.
Foram meses até que um especialista finalmente identificasse a doença: febre do vale, causada por um fungo que ataca principalmente os pulmões, mas pode se espalhar para cérebro, ossos, olhos e outros órgãos.
Casos como o de Irvin não são isolados. Rob Purdie, outro californiano, desenvolveu meningite fúngica após inalar o mesmo fungo enquanto cuidava de seu jardim. “No meu caso, o fungo foi direto para o cérebro”, relatou. Para conter a doença, ele precisa de injeções intracranianas com um medicamento tóxico de 80 anos, que aos poucos envenena seu organismo.

Enquanto a série “The Last of Us”, da HBO, retrata um fungo fictício transformando humanos em zumbis, a realidade é quase tão assustadora: infecções fúngicas invasivas matam cerca de 3,8 milhões de pessoas por ano no mundo, segundo estimativas recentes.

A resistência aos antifúngicos preocupa cientistas e levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a listar 19 espécies como prioritárias para o desenvolvimento de novos medicamentos. Entre elas estão:
– Cryptococcus neoformans, com mortalidade de até 61%;
– Aspergillus fumigatus, presente no solo e com taxa de mortalidade de 40%;
– Candida auris, que já nasceu resistente a todos os antifúngicos conhecidos e se espalha facilmente em hospitais;
– Candida albicans, que pode causar infecções sanguíneas fatais.
O maior desafio é que fungos são geneticamente mais próximos dos humanos do que as bactérias, o que torna difícil desenvolver medicamentos que ataquem os fungos sem danificar células humanas. Muitos antifúngicos disponíveis podem causar falência renal, impotência ou danos ao fígado.
Pessoas com sistema imunológico comprometido — como pacientes em tratamento contra o câncer, portadores de HIV ou transplantados — são as mais vulneráveis. Mas casos como os de Irvin e Purdie mostram que até indivíduos saudáveis podem ser vítimas desses superfungos.
A crise climática, com aumento de queimadas e tempestades de poeira, pode estar acelerando a propagação de fungos como o Coccidioides. Modelos preveem que os casos de febre do vale podem crescer 50% até 2100. Já foram registrados casos em mais de 20 estados dos EUA, chegando à Pensilvânia e Maryland.
Graças a um medicamento experimental, Irvin sobreviveu e está se recuperando. “Ainda tenho cicatrizes nos pulmões e vivo com medo de uma recaída, mas estou mais forte”, diz ele. Hoje, sua missão é alertar outros: “Homens, escutem seus corpos. A saúde é tudo.”