No coração da floresta amazônica, entre galhos submersos e troncos das árvores às margens dos rios, floresce uma das plantas mais enigmáticas da região: a Flor-da-Lua (Selenicereus wittii).
Essa espécie de cacto trepador é única no mundo, sendo encontrada apenas na Amazônia, sendo observada entre maio e junho, quando o Rio Amazonas transborda com as cheias.
Seu nome vem da aparência delicada e do fato de florescer apenas por uma única noite ao ano, criando um espetáculo raro e fascinante para os observadores da natureza, como Margaret Mee: a ilustradora britânica que buscou por anos registrar a floração dessa flor.
Uma Floração Rara e Noturna
A Flor-da-Lua desabrocha entre os meses de março e maio, período correspondente à estação chuvosa amazônica.

Durante essa época, os níveis dos rios sobem, inundando a floresta e criando um ambiente propício para o desenvolvimento da planta.
Suas flores começam a se abrir ao anoitecer, geralmente após as 21h, revelando pétalas brancas longas e delicadas, com um centro amarelado. O perfume adocicado que exala durante a noite tem um papel fundamental na atração de seus polinizadores.
Ao amanhecer, no entanto, a flor murcha e desaparece, tornando sua breve existência um evento quase mítico na floresta.
A efemeridade da Flor-da-Lua desperta o fascínio de cientistas e botânicos, que buscam entender os mecanismos reprodutivos e a ecologia dessa espécie tão peculiar.
Polinização por mariposas
A Flor-da-Lua depende de polinizadores noturnos para sua reprodução. O principal deles é um grupo de mariposas pertencentes à família Sphingidae, conhecidas como mariposas-falcão.

Essas mariposas possuem uma longa “tromba”, que lhes permite alcançar o néctar localizado no fundo da flor. Enquanto buscam alimento, elas transferem o pólen entre as flores, garantindo a fecundação.
De acordo com o artigo Selenicereus wittii: An epiphyte adapted to Amazonian Igapó inundation forests, a polinização da Selenicereus wittii é provavelmente realizada por duas espécies de mariposas do gênero Amphimoena e Cocytius.
Essas mariposas exibem uma adaptação específica para a polinização da planta, onde elas se alimentam do néctar e, durante esse processo, transferem o pólen de uma flor para outra.
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Margaret Mee e a Flor-da-Lua
A botânica e ilustradora britânica, Margaret Mee (1909-1988), foi uma das primeiras a documentar artisticamente a Flor-da-Lua.
Apaixonada pela flora amazônica, Mee realizou diversas expedições ao Brasil, dedicando sua vida a registrar a exuberância das plantas tropicais. Seu trabalho combinava arte e ciência, tornando-se essencial para a conscientização ambiental e a valorização da biodiversidade brasileira.
Uma de suas jornadas mais emblemáticas, que virou documentário em 2013 (Margaret Mee e a flor-da-lua), foi sua busca pela Flor-da-Lua, que levou anos até finalmente presenciar sua floração.
Em 1988, já com quase 80 anos, ela conseguiu registrar essa experiência única durante uma expedição ao Rio Negro, na Amazônia. Navegando por suas águas escuras e enfrentando as dificuldades da floresta, Mee conseguiu observar a floração efêmera da espécie e produzir uma ilustração que se tornou icônica.
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