O envelhecimento, do ponto de vista biológico, é resultado do acúmulo gradual de danos celulares e moleculares ao longo do tempo.
Entre os principais mecanismos estão a degradação do DNA, o encurtamento dos telômeros, o estresse oxidativo causado por radicais livres, falhas nos sistemas de reparo celular e a perda progressiva da função mitocondrial.
Esses processos reduzem a capacidade do organismo de manter a regulação interna e aumentam a suscetibilidade a doenças degenerativas.
No reino animal, casos de longevidade extrema são raros, mas reais. Algumas espécies ultrapassam os 100 anos com facilidade, acumulando décadas — ou até séculos — de vida graças a taxas metabólicas muito baixas, crescimento celular lento e mecanismos eficientes de reparo molecular, o que reduz o acúmulo de danos ao longo do tempo.
São organismos que envelhecem em outro ritmo, muitas vezes em ambientes estáveis e isolados, onde a seleção natural favoreceu a durabilidade biológica.
Água-viva imortal (Turritopsis dohrnii)
Esta pequena água-viva, encontrada em mares temperados, tem a habilidade de reverter seu próprio ciclo de vida.

Quando enfrenta estresse ambiental ou danos físicos, ela pode transformar suas células adultas em células jovens, retornando ao estágio de pólipo. Esse processo, chamado de transdiferenciação, é uma forma de regeneração que, teoricamente, permite que ela evite a morte natural indefinidamente.
Embora não seja “imortal” no sentido absoluto — já que pode ser predada ou morrer por doenças —, seu ciclo biológico não segue um envelhecimento tradicional.
Um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences analisou como a água-viva Turritopsis dohrnii modifica a atividade de seus genes durante o rejuvenescimento: ao reverter seu ciclo de vida, ela ativa genes ligados à pluripotência celular — que permitem às células se tornarem qualquer tipo de tecido — e desativa genes responsáveis pela diferenciação celular, voltando a um estado mais jovem e versátil.
Tubarão-da-Groenlândia (Somniosus microcephalus)
Este tubarão do Ártico é o vertebrado mais longevo já registrado, com estimativas de vida que ultrapassam 400 anos.

Seu crescimento extremamente lento — cerca de 1 cm por ano — e metabolismo reduzido, adaptado a águas profundas e geladas, são fatores centrais para sua longevidade.
A baixa temperatura desacelera processos celulares, reduzindo danos ao DNA ao longo do tempo. Estudos também indicam que esses tubarões atingem a maturidade sexual apenas por volta dos 150 anos, sinal de um ciclo vital muito prolongado.
Tartaruga-de-Galápagos (Chelonoidis nigra)
As tartarugas gigantes de Galápagos são conhecidas por viverem mais de 100 anos, com alguns indivíduos registrados próximos aos 180.

Seu metabolismo naturalmente lento, o estilo de vida predominantemente sedentário e a dieta rica em fibras vegetais promovem estabilidade metabólica e reduzem o estresse fisiológico crônico.
Além disso, apresentam menor incidência de doenças relacionadas ao envelhecimento, possivelmente graças a mecanismos celulares mais eficientes de reparo e controle de inflamações.
No nível celular, um estudo publicado na Genome Biology and Evolution revelou que essas tartarugas possuem duplicações genéticas e variantes que fortalecem vias de reparo de DNA, controle da apoptose (morte celular) e supressão de inflamações e tumores. Isso pode explicar a menor incidência de doenças degenerativas relacionadas à idade observada nessas espécies.
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Molusco Ming (Arctica islandica)
O molusco Ming, um bivalve marinho da espécie Arctica islandica, é um dos animais não-coloniais mais longevos já registrados.

O exemplar mais famoso viveu impressionantes 507 anos, sendo descoberto na costa da Islândia. Essa espécie é encontrada em águas frias do Atlântico Norte, onde o ambiente exerce um papel essencial em sua longevidade.
O segredo da longa vida está em três fatores principais: um metabolismo extremamente lento, alta eficiência na manutenção celular e estabilidade genética.
Vivendo enterrado no fundo do mar e se alimentando de partículas em suspensão, seu estilo de vida de baixa energia reduz drasticamente a produção de radicais livres — moléculas reativas que danificam proteínas, lipídios e DNA ao longo do tempo.
Além disso, estudos mostram que o A. islandica apresenta pouco acúmulo de dano oxidativo em proteínas e lipídios, bem como uma preservação da integridade do DNA mitocondrial.
Isso sugere que suas células contam com sistemas eficazes de reparo e proteção, fazendo com que o envelhecimento ocorra de forma muito mais lenta do que em outras espécies.
Esponja-de-vidro (classe Hexactinellida)
Algumas espécies de esponjas de vidro vivem em profundidades abissais e podem ultrapassar 10 mil anos.

Um exemplo impressionante é a Monorhaphis chuni, que forma uma espícula central de sílica (como uma coluna de vidro) com mais de três metros de comprimento, crescendo lentamente ao longo de milênios.
Essas esponjas vivem em águas profundas, geralmente abaixo de 500 metros, em ambientes extremamente frios e estáveis.
Por serem organismos “simples”, sem tecidos diferenciados ou órgãos, sua longevidade está ligada ao crescimento ultralento e ao metabolismo extremamente baixo.
Como vivem em ambientes com escassez de nutrientes e baixas temperaturas, suas células se dividem com pouca frequência — o que reduz o risco de erros genéticos e mutações acumuladas.
Além disso, a estrutura corporal rígida feita de sílica oferece resistência mecânica e protege contra danos externos.
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