Painel realizado hoje, 7, durante o Abrint Global Congress 2025, demonstrou a assimetria entre os investimentos feitos pelos provedores regionais de internet (ISPs) na infraestrutura de banda larga brasileira e a receita obtida.
Humberto Calza, coordenador de processos da Anatel, trouxe detalhes sobre assimetrias de mercado envolvendo provedores de internet e grandes operadoras. Ele contou que os ISPs respondem por cerca de 46% da receita operacional do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), com destaque para estados do Nordeste, como Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, onde essa participação chega a 80%.
No entanto, os provedores têm mais de 55% dos acessos, em conjunto, conforme a própria Anatel, superando grandes grupos. Além disso, os ISPs são responsáveis por 64% do total de investimentos em infraestrutura de Internet no Brasil.
Grande parte desse investimento se concentra na ampliação da cobertura e na melhoria da rede de fibra óptica em áreas remotas ou de menor poder aquisitivo, onde as grandes operadoras tradicionalmente não chegam com força. O que a diferença entre receitas, investimentos e domínio de mercado.
“Hoje o Brasil é o maior país de PPPs [prestadores de pequeno porte] do mundo. Segundo o BNDES, 90% dos provedores se enquadram como micro ou pequenas empresas, com faturamento inferior a R$ 5 milhões ao ano”, observou Calza.
Dados da Ookla, empresa global de análise de redes, reforçam esse cenário. Segundo Lourenço Lanfranchi, diretor para a América Latina da empresa, o Brasil é destaque no mundial em desempenho de banda larga por conta da qualidade da infraestrutura dos ISPs.
“A qualidade do serviço prestado pelos PPPs no Brasil é cerca de 20% superior à média de outros países. Isso é quase único no mundo”, disse o executivo. A Ookla ressalta ainda que a satisfação dos usuários atendidos por esses provedores nas Américas é a mais alta da região.
Esse desempenho se dá, em parte, pelo modelo de redes 100% em fibra óptica com velocidades simétricas. O consumo médio mensal por usuário já chega a 300 Mbps, tanto em operadoras quanto nos ISPs. Mesmo assim, o preço médio pago pelos consumidores ainda é menor nas pequenas empresas: R$ 92, frente a pouco mais de R$ 100 cobrados pelas grandes operadoras.
Informações mais confiáveis
Apesar dos avanços, um dos grandes desafios do setor, de acordo com Calza, é garantir a consistência dos dados fornecidos pelas pequenas operadoras para o seu relatório setorial, que traz uma radiografia detalhada do setor de telecomunicações no Brasil, com foco especial em aspectos econômicos, operacionais e estruturais dos serviços prestados, como banda larga, telefonia e TV por assinatura.
“Há casos em que empresas com poucos milhares de acessos reportam receitas superiores às das líderes de mercado, o que não condiz com a realidade”, alertou o coordenador, acrescentando que a qualidade dessas informações é fundamental para que o setor possa ser devidamente analisado e regulado.
A necessidade de dados confiáveis também é sentida por instituições como a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), que utiliza as redes dos ISPs para conectar dois terços dos seus 1.800 campi universitários em todo o país.
“Nada do que fazemos é feito de forma isolada”, acrescentou Eduardo Grizendi, diretor de operações da RNP. A organização compartilha infraestrutura com os provedores em iniciativas como o Programa Norte Conectado, que prevê nove infovias ópticas até 2026. Na infovia 03, entre Belém e Macapá, 12 dos 15 consorciados que utilizam a rede são provedores regionais, ilustrou.
Iniciativas como o projeto de medição de qualidade da Internet, conduzido pelo NIC.br em parceria com a Anatel, também buscam trazer maior transparência para o setor. De acordo com Holger Wiehen, supervisor de projetos do NIC.br, a ferramenta desenvolvida pela instituição pode ser usada pelos consumidores para verificarem se a velocidade da Internet entregue corresponde à contratada e poderá até servir de base para rescisões contratuais. A solução também terá um papel educativo, ao orientar o usuário sobre possíveis problemas em sua própria rede local — como configurações inadequadas do Wi-Fi — que podem comprometer a qualidade da conexão. Nesses casos, a responsabilidade não recai sobre o provedor.
O post ISPs concentram investimentos em banda larga no Brasil, mas não a receita apareceu primeiro em TeleSíntese.