Por que os carros elétricos rodam menos do que o prometido?

A promessa de rodar centenas de quilômetros com uma única carga é um dos grandes atrativos dos carros elétricos. No entanto, motoristas que adotam essa tecnologia ainda se deparam com um desafio comum: a autonomia real dos veículos costuma ser inferior à anunciada pelas fabricantes. 

Afinal, por que isso acontece? E será que os carros a combustão entregam um alcance mais preciso do que os elétricos? 

Neste artigo, explicamos os principais fatores que afetam o desempenho dos veículos elétricos e comparamos os dados com os automóveis tradicionais.

Autonomia de bateria: por que o alcance dos carros elétricos é diferente do que a fabricante promete?

Carro elétrico com chip de condução inteligente – renderização 3D. / Crédito: bclass (Shutterstock/reprodução)

A autonomia dos carros elétricos, ou seja, a distância percorrida com uma carga completa da bateria, costuma variar bastante conforme o modelo e o uso.

Em média, um battery electric vehicle (BEV) roda entre 100 e 400 km, mas esse número pode cair significativamente dependendo do estilo de direção, do relevo da estrada e até da temperatura externa.

As montadoras, por padrão, anunciam a autonomia com base em ciclos de testes padronizados, como o WLTP (Worldwide Harmonized Light Vehicles Test Procedure).

Esses testes simulam trajetos mistos (cidade e estrada), mas são feitos em condições controladas, diferentes do mundo real.

Já no Brasil, o Inmetro adota critérios mais conservadores, o que pode gerar divergências ainda maiores entre o que é prometido e o que é entregue ao motorista.

Comparando com os carros a gasolina, a diferença é que o consumo declarado (em km/l) costuma ser mais próximo da realidade, ainda que também sujeito a variações.

A principal razão está na tecnologia madura dos motores a combustão, que apresenta maior previsibilidade em diferentes ambientes.

Além disso, o reabastecimento em poucos minutos ajuda a reduzir a ansiedade por autonomia, algo comum entre motoristas de elétricos.

A autonomia média dos veículos elétricos e suas variações

Carros elétricos sendo carregados em estação moderna de recarga. / Crédito: Electric Cars Charging at a Modern EV Station (Shutterstock/reprodução)

Tipos de carros eletrificados

Para entender as diferenças de autonomia, é essencial conhecer os principais tipos de veículos eletrificados disponíveis no mercado:

  • HEV (Híbrido): Combina motor a combustão com elétrico. Usa a bateria para apoio em baixas velocidades;
  • PHEV (Híbrido Plug-in): Tem baterias maiores que permitem rodar até 100 km apenas com eletricidade;
  • BEV (100% elétrico): Funciona exclusivamente com bateria. Alguns modelos chegam a 500 km de alcance;
  • REEV (Elétrico com autonomia estendida): Utiliza motor a combustão apenas como gerador, em emergências;
  • FCEV (Célula de combustível): Movido a hidrogênio, alcança mais de 500 km, mas tem baixa disponibilidade no Brasil.

Autonomia média estimada por tipo:

  • BEV: 100 a 400 km;
  • REEV: até 450 km;
  • FCEV: mais de 500 km;
  • Modo elétrico nos PHEVs (híbridos): até 100 km.
Representação 3D de caminhão movido a hidrogênio. Veículo elétrico com célula de combustível (FCV) como alternativa de emissão zero. / Crédito: Bald Engineer (Shutterstock/reprodução)

Fatores que afetam a autonomia dos carros elétricos

Diversos fatores influenciam diretamente na autonomia entregue pelos carros elétricos. Entre os principais estão:

Condições climáticas extremas

Frio e calor afetam diretamente o desempenho das baterias. Em temperaturas muito baixas, as reações químicas ficam mais lentas, exigindo mais energia para manter o funcionamento dos sistemas. Em calor excessivo, há sobrecarga dos sistemas de climatização, reduzindo a autonomia.

Uso de acessórios

O uso de ar-condicionado, aquecedores e multimídia contribui para o consumo energético da bateria. Só o ar-condicionado pode reduzir o alcance em até 10%.

Carro elétrico sendo carregado em estação. Conceito de energia limpa, natureza e sustentabilidade. / Crédito: Darunrat Wongsuvan (Shutterstock/reprodução)

Topografia

Regiões com aclives e descidas exigem mais do motor e da bateria. Subidas constantes, por exemplo, aumentam o consumo.

Estilo de direção

Acelerações bruscas e velocidade elevada prejudicam o desempenho. Direção suave e constante melhora significativamente o alcance.

Carro elétrico da Mercedes-Benz sendo carregado em estação pública. / Crédito: yakub88 (Shutterstock/reprodução)

Peso e carga

Quanto mais pesado o veículo ou maior a carga transportada, mais energia será necessária para movimentá-lo.

Capacidade da bateria

A capacidade de armazenamento, medida em kWh, funciona como o “tanque” dos veículos elétricos. Um carro com bateria de 100 kWh pode, teoricamente, ir mais longe que um com 40 kWh, mas isso dependerá também da eficiência do motor.

Leia mais:

  • Como funciona um carro elétrico
  • Qual a diferença entre carro elétrico e eletrificado
  • Melhores carros elétricos para comprar no início de 2025: confira 6 opções

A diferença entre promessa e realidade: por que o número não bate?

Segundo o jornalista Boris Feldman, a maior parte das divergências entre a autonomia prometida e a entregue está nas condições dos testes versus a vida real. Os testes ocorrem em ambientes ideais, com clima ameno, sem passageiros extras, e com velocidade constante, cenários difíceis de replicar no dia a dia.

Carro elétrico da Mercedes-Benz sendo carregado em estação pública. / Crédito: yakub88 (Shutterstock/reprodução)

Além disso, as montadoras geralmente divulgam a melhor versão possível do carro, com a maior bateria disponível. Muitas vezes, as versões de entrada têm menos capacidade e, portanto, autonomia menor.

Por isso, especialistas recomendam adotar uma margem de segurança de 10% a 15% na autonomia estimada ao planejar trajetos com carros elétricos. Para quem depende do veículo no cotidiano ou em longas viagens, essa precaução ajuda a evitar surpresas desagradáveis.

O post Por que os carros elétricos rodam menos do que o prometido? apareceu primeiro em Olhar Digital.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.