Uma ex-funcionária da OneTaste, startup de bem-estar acusada de operar como um “culto sexual”, prestou depoimento nesta quarta-feira (7) em um tribunal federal de Nova York, revelando detalhes perturbadores sobre os treinamentos e práticas exigidos pela organização, que incluíam instruções para atingir orgasmos com “qualquer pessoa na rua”.
A ex-funcionária, identificada como Becky, agora com quase 40 anos e grávida, relatou ao júri que entrou para a OneTaste em 2011, aos 23 anos, e posteriormente conseguiu um emprego no setor de vendas da empresa. O salário era de US$ 2.000 por mês (cerca de R$ 11,5 mil), valor insuficiente para cobrir os altos custos dos cursos da organização, que variavam entre US$ 15 mil (R$ 85 mil) e US$ 20 mil (R$ 115 mil) ao ano.
Becky descreveu os cursos como “práticos” e explicou que se esperava que ela estivesse constantemente disponível para praticar a chamada meditação orgástica (OM) com colegas e potenciais clientes. “A expectativa era que eu estivesse aberta a praticar OM com qualquer pessoa na rua”, declarou à corte. “Eu tinha que estar excitada o tempo todo. Era realmente mal visto dizer que você não estava com vontade.”
Em seu testemunho, Becky contou que se sentia vulnerável e foi atraída pela promessa de pertencimento e liberdade sexual promovida pela organização. “Eu era o alvo perfeito”, afirmou. “A palavra ‘alvo’ era usada com frequência para pessoas fáceis de convencer. Vem da linguagem dos vigaristas. Eu era jovem, idealista, e disposta a que a sexualidade fosse discutida abertamente. Eu estava muito, muito sozinha e queria muito ter uma comunidade. Eu estava sexualmente confusa o suficiente para que isso se encaixasse em todos os aspectos para mim.”
O julgamento coloca no banco dos réus Nicole Daedone, fundadora da OneTaste, e Rachel Cherwitz, ex-diretora de vendas, que respondem por acusações de coerção sexual, fraude e tráfico de pessoas. As duas são acusadas de liderar por 14 anos, até 2018, um esquema em que membros eram manipulados a manter relações sexuais com investidores e clientes, sob o pretexto de desenvolvimento espiritual e autoconhecimento.
Durante as alegações iniciais na terça-feira (6), a defesa de Nicole, liderada pela advogada Jennifer Bonjean, tentou descredibilizar as vítimas, argumentando que as atividades sexuais ocorreram com consentimento e entusiasmo. “Na época, eles estavam se divertindo muito. Pessoas adultas tomavam decisões adultas que não queriam aceitar”, declarou Bonjean, segundo o New York Post. “Agora eles são casados, têm filhos e não querem que seus vizinhos saibam o que faziam aos 20 anos.”
No entanto, o procurador-assistente dos EUA, Sean Fern, rebateu os argumentos da defesa, destacando o caráter manipulador e coercitivo da organização. “Eles trabalhavam porque lhes ensinaram que o caminho para a iluminação era obedecer às exigências dos réus”, afirmou Fern ao júri.
O caso continua a ser julgado nos próximos dias, com novos depoimentos de ex-membros e apresentação de provas documentais.
Do Ver-o-Fato, com informações do extra.globo
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