Sapecada da Canção Nativa: tradição e cultura no coração da Serra catarinense


Festival nativista em Lages é vitrine cultural do Sul e movimenta a economia criativa Criada em 1993, a Sapecada da Canção Nativa vai além de ser um festival de música, é um encontro com as raízes da cultura sulista. Inserida na programação da Festa Nacional do Pinhão, em Lages, nunca teve uma edição interrompida e se consagrou como a maior vitrine da música nativista no Sul do Brasil. O evento, que recebeu esse título em 1998, tornou-se referência cultural e palco de valorização dos saberes e fazeres da região serrana, com mais de 30 anos de história.
A Prefeitura de Lages tem papel essencial na realização. Com apoio estrutural, técnico e humano, o poder público coordena, junto a voluntários e parceiros como a Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), a organização de um festival que atrai músicos e compositores de todo o Brasil e até de países vizinhos, como Argentina e Uruguai. A energia que vem do palco, em um ambiente democrático e próximo do público, é um dos segredos do sucesso duradouro do evento.
Em 2025, o festival será organizado pela Secretaria de Turismo de Lages, que tem como propósito preservar as raízes culturais da região, despertando o interesse dos compositores, poetas, pesquisadores, professores e estudantes, para valorizar os temas nativos populares.
Cultura com raízes profundas
Desde sua primeira edição, quando mais de 500 composições foram inscritas, a Sapecada sempre se destacou por levar ao público músicas inéditas e também pela qualidade artística. A canção vencedora de 1993, composta por Jayme Caetano Braun e interpretada por Neto Fagundes, já anunciava a grandiosidade do festival. Ao longo dos anos, músicas como Canta Catarina, Leão Baio do Cajuru, e Tropeiros se tornaram hinos nativistas.
O nome tem origem em um hábito típico da região: o de “sapecar” o pinhão, ou seja, a semente é assada na brasa das grimpas de pinheiro. Escolhido propositalmente, esse nome resgata um costume antigo e cultural. É justamente essa conexão com a essência da região que transforma o evento em um “livro aberto” da história e da vida no Sul.
As letras das canções carregam a força das vivências, da cultura e da “lida” campeira. Elas falam da fauna, da flora, do clima, da Revolução Farroupilha, da Guerra do Contestado e de lendas locais.
“O festival que tem uma preservação e valorização da cultura serrana, porque está inserido no seu contexto os saberes e fazeres da região. As maneiras de pensar, sentir e agir do povo serrano. As expressões, a comunicação, o trajar, enfim, toda a cultura regional serrana. Ela retrata o povo serrano, o povo sul-americano, Rio Grande do Sul, Paraná, e também Argentina e Uruguai. É um livro aberto.”, explica Mário Arruda, um dos idealizadores.
Impacto cultural e econômico
O evento é também um motor econômico para Lages e região. Segundo Arruda, somente os festivais ligados à Sapecada (da Canção Nativa e da Serra Catarinense, que é fase regional criada em 2000), geram, juntos, em torno de 700 composições por ano. Isso envolve dezenas de profissionais, desde compositores e músicos até técnicos de som, estúdios e iluminadores, além de movimentar setores como turismo, gastronomia e comércio local.
O formato do evento é outro diferencial. Ao contrário de festivais mais formais, a Sapecada convida o público a estar de pé, próximo do palco, vibrando com cada apresentação inédita. É uma experiência imersiva, onde artistas e plateia se conectam em tempo real, tornando o espetáculo vivo, intenso e imprevisível.
A Sapecada não só preserva a cultura, mas a projeta. Quem sobe ao palco ganha visibilidade e abre portas em todo o circuito nativista. É um espaço de revelação e afirmação artística, onde o novo encontra a tradição e o talento é celebrado com intensidade e respeito.
Com mais de três décadas de história, a Sapecada da Canção Nativa segue firme como símbolo de identidade e resistência cultural. É um patrimônio de Lages, que a cada ano emociona, ensina e inspira.
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