Pesquisas recentes realizadas abaixo do piso da Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém (Israel), parecem confirmar com impressionante fidelidade a descrição do sepulcro de Jesus Cristo conforme o Evangelho de João.
Entre as amostras de pólen e fragmentos arqueobotânicos coletados, identificaram-se vestígios de oliveiras e videiras — exatamente as espécies citadas no texto sagrado: “Naquele lugar onde foi crucificado havia um jardim; e no jardim um sepulcro novo, no qual ainda ninguém havia sido colocado. Ali puseram Jesus.” (João 19:41–42)

A professora Francesca Romana Stasolla, da Universidade La Sapienza de Roma, coordena a equipe italiana que iniciou as escavações em 2022, após décadas de impasse entre as três autoridades religiosas responsáveis pelo local — o Patriarcado Ortodoxo, a Custódia da Terra Santa e o Patriarcado Armênio.
“Sabemos que, na época de Adriano, quando se ergueu Aelia Capitolina, a área já fazia parte da cidade. Mas, no tempo de Jesus, esse terreno ainda ficava fora dos limites urbanos”, explica Stasolla ao Times of Israel. O estudo prévio de radiocarbono ainda está pendente, mas a análise da vegetação antiga aponta para um uso agrícola daquele espaço ainda na Antiguidade.
Como as pesquisas em Jerusalém começaram
- Em 2019, as comunidades cristãs finalmente autorizaram um ambicioso projeto de renovação do piso, quase todo remanescente do século XIX, substituindo-o pela primeira vez desde o incêndio de 1808;
- A inauguração de um novo piso exigiu licença da Autoridade de Antiguidades de Israel, condição indispensável para qualquer sondagem oficial;
- “Durante as obras de renovação, decidimos também abrir focos de escavação sob o solo da igreja”, revela a arqueóloga. “Por ora, não há áreas ativas, pois nos preparamos para a Páscoa e precisamos manter o templo acessível aos peregrinos”;
- A equipe permanente em Jerusalém conta com dez a 12 profissionais, revezando-se em turnos que incluem arqueólogos, geólogos, arqueobotânicos e arqueozoologistas;
- Segundo Stasolla, “o ambiente é único; fomos calorosamente acolhidos e criamos vínculos fortes com todos os envolvidos”;
- Especialistas de Roma frequentemente desembarcam para dar suporte direto às escavações.
Sob o chão atual, os pesquisadores documentaram estratos que remontam à Idade do Ferro (1200–586 a.C.), quando a região funcionava como pedreira. “Descobrimos cerâmicas, lamparinas e utensílios do cotidiano desse período”, conta Stasolla. Após o abandono da pedreira, construíram-se muros baixos para transformar o espaço em áreas de cultivo — exatamente o “jardim” mencionado no Evangelho.
No nível correspondente ao reinado de Constantino, no século IV, havia diversas sepulturas escavadas na rocha. A tradição indica que o próprio imperador isolou o túmulo venerado como o de Jesus, circundando-o com uma estrutura que, hoje, corresponde à rotunda sob a edícula erguida em 1810, segundo o Express.
“Embaixo da edícula, encontramos uma base circular em mármore, possivelmente parte da monumentalização inicial realizada por Constantino”, comenta Stasolla. “As representações mais antigas, datadas dos séculos V e VI, descrevem-na exatamente assim.”
Além da base em mármore — cujo tipo de rocha e composição do revestimento ainda passam por análises geológicas e de argamassa —, a equipe exumou centenas de moedas entre 337 e 378 d.C., ossadas de animais consumidos em banquetes litúrgicos (ovelhas, cabras, porcos, aves e até peixes como ponho‑dente e bacalhau) e conchas de um caracol terrestre introduzido no Mediterrâneo após as Cruzadas.
“Só depois de analisarmos todos esses restos poderemos compreender melhor as dietas e hábitos dos que frequentaram este lugar ao longo dos séculos”, acrescenta a arqueóloga.
Cerca de 100 mil fragmentos de cerâmica esperam ainda classificação e as escavações estavam datadas para serem retomadas após a Páscoa, com previsão de conclusão dentro de alguns meses. “Falta apenas uma parte do corredor norte a ser liberada”, antecipa Stasolla.
Ao ser questionada sobre a possibilidade de a arqueologia “provar” definitivamente que Jesus foi sepultado ali, ela pondera: “É essencial distinguir fé de história. Mas a própria fé — de gerações que consideraram este local sagrado — permitiu que ele chegasse até nós. O verdadeiro tesouro que desenterramos é a história de quem construiu este lugar com sua crença.”

Linha do tempo das intervenções
- Século IV: Construção original pelo imperador Constantino;
- Século VII: Incêndio persa destrói parte da basílica;
- 1009: Ataque do califa Al‑Hakim;
- Século XII: Amplas reformas no período das Cruzadas;
- 1808: Grande incêndio, piso reconstruído no século XIX;
- 1810: Edícula atual erguida sobre o sepulcro;
- 2019: Acordo de renovação e início de trâmites com a Autoridade de Antiguidades de Israel;
- 2022: Início oficial das escavações arqueológicas;
- Março de 2025: Obras de renovação em curso.
Com metodologia rigorosa e tecnologias de ponta, a equipe da Sapienza promete, em breve, apresentar uma reconstrução multimídia completa do “quebra‑cabeça” subterrâneo do Santo Sepulcro — um vislumbre sem precedentes da longa e complexa história de Jerusalém.
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