Suspeito de liderar a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, foi capturado em Santa Cruz de la Sierra após tentativa de renovar documento com identidade falsa. Ele era considerado foragido há cinco anos e estava na lista da Interpol.
A Polícia Federal (PF) brasileira anunciou neste sábado (18) a prisão de Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta, apontado como o novo número 1 da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A captura ocorreu na sexta-feira (17), na cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, após atuação conjunta com a Fuerza Especial de Lucha contra el Crimen (FELCC), da polícia boliviana.
Tuta estava foragido desde 2020, quando foi um dos principais alvos da Operação Sharks, conduzida pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Segundo a PF, ele foi detido ao tentar renovar a Cédula de Identidade de Estrangeiro (CEI), apresentando-se com o nome falso de Maycon Gonçalves da Silva, nascido em 25 de março de 1971. A tentativa de fraude foi detectada quando o sistema de controle migratório internacional apontou um alerta de busca da Interpol. A Polícia Federal brasileira foi notificada imediatamente.
Substituto de Marcola na chefia da facção
Marcos Roberto de Almeida é considerado o sucessor de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC que cumpre pena de mais de 300 anos no sistema penitenciário federal. Segundo o MP-SP, Tuta foi escolhido pelo próprio Marcola para assumir a chefia da organização criminosa após sua transferência para um presídio federal, em fevereiro de 2019.
“O Marcos Roberto, vulgo Tuta, já era da sintonia de 1, mas não era o número 1 do PCC. Com a remoção do Marcola, ele foi elencado, nominado pelo Marcola para ser o novo n° 1 do PCC, tanto dentro como fora dos presídios. É um velho conhecido nosso. Só que, em liberdade, ele atingiu o status, seria o novo Marcola na nossa concepção”, explicou à época o promotor Lincoln Gakiya, que há décadas investiga o PCC em São Paulo.
Segundo Gakiya, a estrutura de comando da facção passou a se concentrar nas ruas, com líderes em liberdade assumindo o controle operacional:
“A partir da remoção [para o sistema federal], as ordens passaram a ser nas ruas. E um dos indivíduos, Marcos Roberto, vulgo Tuta, ele assumiu a função do Marcola. É um indivíduo que tem contato em consulado, que transita no país e fora do país. É uma operação hoje que a ordem não está mais centralizada dentro do presídio, mas na rua. Por isso a importância da operação de hoje”.
Prisões, condenações e tentativas de disfarce
No Brasil, Tuta tem duas prisões preventivas decretadas por investigações do MP-SP. Ele já foi condenado em primeira instância a 12 anos e 6 meses por organização criminosa e ainda responde a outro processo por lavagem de dinheiro. Durante o período em que esteve foragido, tentou adotar estratégias sofisticadas para se esconder: chegou a ser identificado como adido no consulado de Moçambique em Belo Horizonte, cargo que teria sido utilizado para ocultar sua verdadeira identidade. O termo “adido” é usado para designar um agente diplomático que não integra a carreira diplomática formal.
Conforme informou a Polícia Federal, até a noite de sexta-feira, o criminoso continuava sob custódia das autoridades bolivianas, que aguardavam a confirmação oficial da identidade e os procedimentos legais que poderão levar à sua expulsão e extradição ao Brasil.
A Operação Sharks e o novo núcleo do PCC
A prisão de Tuta é um desdobramento da Operação Sharks, deflagrada em fevereiro de 2020 pelo MP-SP para desarticular a nova cúpula do PCC, conhecida como Sintonia Final da Rua. Essa elite da organização criminosa passou a operar a partir do exterior e do lado de fora dos presídios. A investigação envolveu oito promotores e mais de 250 policiais militares, que cumpriram 12 mandados de prisão e 40 de busca e apreensão.
Na ocasião, três pessoas foram presas, e as autoridades apreenderam explosivos, armas, carros de luxo e mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo. Também foi descoberto um esquema de lavagem de dinheiro operado por meio do dólar-cabo, um tipo de câmbio paralelo sem registro oficial. De acordo com planilhas apreendidas, o PCC movimentava cerca de R$ 100 milhões por ano, com lucros oriundos principalmente do tráfico de drogas e de contribuições feitas por seus membros.
Segundo o então procurador-geral de Justiça, Mário Luiz Sarrubbo, Tuta foi alçado ao posto máximo da facção por indicação direta de Marcola.
“Ele assumiu o comando do PCC por escolha do próprio Marcola”, afirmou.
Na lista de 21 integrantes da cúpula identificados pela força-tarefa, estavam alvos localizados na Bolívia, no Paraguai e até na África. Dentre os principais nomes, também foram destacados três integrantes do braço financeiro da organização: Carla Luy Riciotti Lima, Robson Sampaio Lima e José Carlos de Oliveira, responsáveis por administrar o dinheiro vindo do tráfico.
O futuro de Tuta
Agora, a expectativa recai sobre os trâmites legais que definirão o destino de Tuta. A depender do processo de expulsão ou extradição, ele poderá retornar ao Brasil para responder pelos crimes que lhe são imputados.
A prisão representa um duro golpe na atual estrutura do PCC e reforça os esforços das autoridades brasileiras em desmantelar os tentáculos internacionais da facção, que há anos opera além das fronteiras do país.
Do Ver-o-Fato, com informações do G1
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