Vladimir Putin conseguiu o que queria. Após uma conversa telefônica com o homólogo norte-americano Donald Trump, o presidente russo impôs um novo obstáculo às negociações com a Ucrânia e sinalizou que a guerra continuará sem prazo para acabar. “Não há cronograma e não pode haver”, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov nesta terça-feira (20), conforme relato do jornal The Washington Post.
O governo russo quer que os dois lados elaborem rascunhos separados de um possível tratado de paz, numa etapa que adia qualquer discussão prática sobre um cessar-fogo. “O diabo está nos detalhes. Serão redigidos rascunhos tanto pelo lado russo quanto pelo lado ucraniano. Eles trocarão esses documentos e, então, haverá contatos difíceis para formular um texto único”, declarou Peskov.
Trump, que vinha dizendo há meses que os combates “precisam parar imediatamente”, abandonou a exigência de cessar-fogo como pré-condição para o diálogo. Para Kiev e líderes europeus, o recuo dos EUA é um sinal preocupante e uma vitória diplomática de Putin.

“Infelizmente não mudou o status quo”, afirmou o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak. Segundo ele, “a Europa e a Ucrânia querem um cessar-fogo imediato, mas os EUA ainda acreditam que a Rússia concordará com um por causa de seus próprios interesses comerciais”.
A Rússia deixou claro que não aceitará tréguas sem que a Ucrânia atenda a condições consideradas inegociáveis: fim da ajuda militar ocidental, redução das Forças Armadas e renúncia à entrada na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Para Peskov, a guerra só será resolvida com a “eliminação das causas de origem”, código usado pelo Kremlin para justificar a imposição de um regime aliado em Kiev.
Moscou interpretou o diálogo com Trump como um gesto de aproximação. “Os presidentes falaram com muitos detalhes sobre o futuro de nossas relações, com o presidente Trump tendo falado com bastante emoção sobre as perspectivas dessas relações. Ele enfatizou repetidamente que é a favor de relações mutuamente respeitosas e mutuamente benéficas com a Rússia, dado seu papel no mundo e sua posição econômica”, disse o conselheiro do Kremlin Yuri Ushakov.
O Senado russo, por sua vez, vê um triunfo ainda maior do Kremlin. “Com base nos resultados da conversa entre Putin e Trump, dá a sensação de que dois grupos consultivos e de negociação finalmente, mas não irrevogavelmente, se formaram: russo-americano e ucraniano-europeu. O primeiro discute as perspectivas para alcançar a paz, o segundo — a possibilidade de continuar a guerra”, escreveu o senador Konstantin Kosachev.
O papel do papa Leão XIV
No vácuo da mediação internacional, o Vaticano apareceu como possível anfitrião das futuras negociações. A proposta foi discutida em Roma durante a visita do vice-presidente JD Vance e do secretário de Estado Marco Rubio à posse do papa Leão XIV.
“O Vaticano é visto como um mediador aceitável, e os americanos sinalizaram que preferem isso a outro local neutro. Que o Vaticano dá o sinal de um lugar da civilização ocidental onde a paz pode ser discutida”, disse um funcionário italiano, sob anonimato.
Em sua primeira bênção dominical, o papa norte-americano condenou o conflito. “Carrego no coração os sofrimentos do amado povo ucraniano”, declarou. “Que tudo seja feito para alcançar uma paz autêntica, justa e duradoura, o mais rápido possível. Que todos os prisioneiros sejam libertos e as crianças retornem às suas famílias.”
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