Janja, a diplomacia e o vexame: “não há protocolo que me cale”

Rosângela da Silva, conhecida como Janja, primeira-dama do Brasil, protagonizou mais um capítulo constrangedor para a diplomacia brasileira ao quebrar protocolos em um jantar com o presidente chinês Xi Jinping, durante recente visita oficial. Em um ambiente que exigia discrição e alinhamento com a agenda do governo, Janja decidiu agora abordar os supostos malefícios do TikTok para crianças e adolescentes, cobrando providências do líder chinês — uma figura cuja gestão é marcada por censura estatal e repressão à liberdade de expressão.

A atitude, longe de ser um ato de coragem, revela uma mistura de desconhecimento diplomático e oportunismo político que coloca o Brasil em saia justa internacional. Na verdade, o ataque de Janja ao TikTok seria por ele abrigar críticas ao governo Lula pela “extrema direita”.

A fala de Janja não apenas violou a etiqueta diplomática, que reserva a chefes de Estado o protagonismo em discussões de alto nível, mas também expôs uma contradição gritante: ao pedir regulação de redes sociais a Xi Jinping, cuja China opera um dos sistemas mais opressivos de controle digital do mundo, a primeira-dama parece ignorar o contexto autoritário do interlocutor.

O líder chinês, conhecido por sua intolerância a críticas e por um regime que silencia dissidentes, teria recebido o comentário com desconforto, segundo fontes próximas ao encontro. A reação não surpreende: nem mesmo um defensor da censura estatal parece ter apreciado a intervenção inoportuna.

Nesta segunda-feira (19), em evento no Tribunal de Contas da União (TCU), Janja dobrou a aposta. “Não há protocolo que me cale”, declarou, em tom desafiador, ao defender sua cruzada pela regulamentação das redes sociais. A primeira-dama alega que sua preocupação é proteger crianças e adolescentes de conteúdos inadequados, violência virtual e aliciamento online.

Embora o tema seja legítimo, a forma como Janja o conduz — com arroubos de protagonismo em cenários inadequados — compromete sua credibilidade e a do Brasil. Em vez de articular o debate em fóruns apropriados, como organismos internacionais ou com especialistas, ela opta por gestos midiáticos que geram mais polêmica do que resultados.

A tentativa de Janja de se posicionar como defensora das crianças esbarra em outro problema: sua seletividade. Ao criticar o TikTok em um jantar com Xi Jinping, ela ignora que a China controla rigidamente suas plataformas digitais, muitas vezes para fins de vigilância e propaganda. Cobrar “providências” de um regime que censura até mesmo menções a direitos humanos é, no mínimo, uma demonstração de ingenuidade diplomática.

Pior: ao sugerir regulação de redes sociais no Brasil, Janja flerta com ideias que, em mãos erradas, podem ecoar as práticas autoritárias que ela mesma parece criticar. A linha entre proteção e censura é tênue, e a primeira-dama não oferece clareza sobre como evitar esse risco.

Contrastes

No TCU, Janja atribuiu as críticas à sua condição de mulher, acusando a imprensa de sensacionalismo e “fofoca de bastidor”. A estratégia de vitimização, porém, não resiste ao escrutínio. Parlamentares da oposição e analistas de relações internacionais não questionam seu gênero, mas sua conduta. A quebra de protocolo não é uma questão de ser homem ou mulher — é uma questão de preparo e senso de responsabilidade.

Primeiras-damas, como qualquer figura pública, devem agir com discernimento, especialmente em contextos que representam o país. Comparar sua atuação à de Brigitte Macron, que mantém postura discreta e alinhada com a diplomacia francesa, só reforça o contraste.

O Brasil, que busca recuperar sua relevância no cenário global, não pode se dar ao luxo de tropeços diplomáticos. Janja, com sua insistência em atuar como porta-voz de causas sem o devido cuidado, arrisca transformar boas intenções em incidentes internacionais. Sua fala sobre redes sociais é válida, mas o palco escolhido e a forma de abordagem são desastrosos.

A diplomacia exige mais do que boas intenções — exige estratégia, timing e, acima de tudo, respeito ao papel que se ocupa. Enquanto Janja insiste que “nada a calará”, o Brasil paga o preço de sua falta de tato.

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