A COP 30 e o papel da Amazônia na crise climática e social: a governança amazônida compartilhada

Manoel Alves da Silva – professor, sociólogo e doutor em Ciências Socioambientais

O mundo está à beira de um colapso climático e social. Mudanças na temperatura global, regional e local, somadas ao aumento da pobreza e da urbanização planetária, ameaçam a estabilidade dos ecossistemas e a sobrevivência das comunidades mais vulneráveis. Nesse contexto, a Amazônia se destaca como uma das soluções por ter um dos ecossistemas mais ricos e biodiversos do planeta, e sua preservação é fundamental para o futuro do planeta.

A Amazônia Legal brasileira é composta por 9 estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão), com uma população total de aproximadamente 25 milhões de habitantes e 772 municípios. Essa região abriga uma vasta gama de espécies, culturas e saberes, sendo um patrimônio estratégico não apenas para o Brasil, mas para toda a humanidade.

A Amazônia é frequentemente vista como um problema, devido aos desafios que enfrenta, como o desmatamento e a degradação ambiental. No entanto, é hora de mudar essa perspectiva e reconhecer que a Amazônia é mais solução do que problema. A região tem um papel fundamental a desempenhar na regulação do clima global, na produção de oxigênio e na conservação da biodiversidade.

A região enfrenta desafios significativos, incluindo desmatamento, desigualdade social e econômica, e mudanças climáticas. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento na Amazônia aumentou 30% nos últimos anos, afetando não apenas a biodiversidade, mas também as comunidades locais. Esses dados reforçam a urgência de ações estruturadas que articulem justiça climática, desenvolvimento sustentável e protagonismo local.

O desenvolvimento sustentável na Amazônia deve ser baseado em uma visão de inclusão e equidade, com protagonismo amazônida. Isso significa reconhecer os direitos e interesses das comunidades tradicionais e indígenas, bem como das populações urbanas, e garantir que elas sejam envolvidas em todas as etapas do processo de desenvolvimento. As populações urbanas também têm um papel importante a desempenhar na promoção do desenvolvimento sustentável, através da adoção de práticas sustentáveis e da conscientização ambiental.

A liderança local é fundamental para promover a governança compartilhada e o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Os governadores e líderes locais têm um papel estratégico na articulação de esforços e na mobilização de recursos para proteger a região e impulsionar alternativas que aliem sustentabilidade, inclusão social e inovação.

Entretanto, a implementação da governança compartilhada na Amazônia enfrentará desafios significativos, incluindo a necessidade de superar os conflitos de interesses entre diferentes setores da sociedade e garantir a participação efetiva das comunidades locais. Além disso, é fundamental desenvolver linhas de financiamento reais e estruturantes que apoiem o desenvolvimento sustentável na região, indo além dos anúncios midiáticos e promessas protocolares. A transparência e a responsabilidade pública (accountability) devem ser princípios inegociáveis dessa governança.

A adoção de práticas agrícolas sustentáveis e a promoção da inovação tecnológica podem ser fundamentais para reduzir o impacto ambiental do desenvolvimento na Amazônia. Isso inclui o uso de técnicas de agricultura orgânica, a implementação de sistemas de produção mais eficientes e a adoção de energias renováveis. Tais práticas contribuem para fortalecer a bioeconomia, preservar a floresta em pé e gerar renda com base em atividades de baixo carbono.

A liderança compartilhada e a colaboração entre diferentes setores da sociedade são essenciais para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável na Amazônia. Isso implica em parcerias sólidas entre governos, empresas, organizações da sociedade civil e comunidades locais, promovendo a cooperação, o compartilhamento de saberes e a corresponsabilidade nas decisões.

Em resumo, a governança amazônida compartilhada é fundamental para o desenvolvimento sustentável da região. No entanto, sem o compromisso firme dos países ricos em reduzir seus padrões insustentáveis de consumo e produção, e em assumir a responsabilidade histórica pelo desequilíbrio climático, qualquer esforço feito apenas por países em desenvolvimento será insuficiente.

A COP 30 representa uma oportunidade decisiva para que as nações industrializadas paguem a conta ambiental que lhes cabe e demonstrem, com recursos financeiros concretos e mecanismos efetivos de apoio, que estão dispostas a investir na preservação da Amazônia. Chega de discursos vazios e soluções de fachada: as alternativas precisam ser implementadas com base em uma governança enraizada no território, que respeite a diversidade amazônica e que atenda às necessidades reais da população local.

A pergunta que fica é: os líderes mundiais estarão à altura do desafio histórico que a Amazônia impõe à humanidade? Ou continuarão terceirizando responsabilidades e praticando a hipocrisia climática enquanto o planeta arde?

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