Um bebê de 1 ano e 2 meses foi deixado pelos pais em uma boca de fumo como garantia de pagamento de uma dívida de R$ 150 em Sarandi, no norte do Paraná. O caso foi relatado pelos tios-avós da criança ao Conselho Tutelar no mesmo dia em que a criança foi resgatada pela família. Segundo a Polícia Civil, os pais do menino poderão responder por abandono de incapaz.
A criança foi retirada da posse dos traficantes por uma tia e, atualmente, está sob os cuidados dos tios-avós. O tio-avô, de 56 anos, contou à RPC, filiada a globo, que a criança chegou até ele fragilizada e com um machucado na orelha. Ele relatou que a situação ocorreu há cerca de duas semanas, quando os pais, usuários de drogas e moradores de rua em Sarandi, deixaram o bebê com traficantes locais como forma de saldar uma dívida.
“Eu fiz o que achei que era necessário, com o consentimento da esposa. E pra mim, hoje, é uma bênção”, declarou o tio-avô.
Ele também relatou que, apesar das dificuldades financeiras, não hesitou em acolher o menino ao tomar conhecimento da situação. O homem, que trabalhava como caminhoneiro, está afastado desde que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A renda da família vem do auxílio-saúde que ele recebe do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e das diárias da esposa, que atua na área da limpeza.
“A gente tá se virando como pode. Eu vou ajudar ele, com certeza. Mas ele não tem noção do bem que ele está me fazendo. Quero só a segurança de que ninguém vai chegar aqui amanhã ou depois e vai levar ele embora e privar do que a gente tem pra oferecer pra ele, que é muito amor e muito carinho”, afirmou o tio-avô.
De acordo com ele, a criança está bem agora e será acompanhada por um pediatra. Ele também informou à RPC que já manifestou interesse em ficar com a guarda definitiva do menino.
Segundo o Conselho Tutelar de Sarandi, foi elaborado um termo de responsabilidade para que os tios-avós permaneçam com a guarda provisória da criança. A Vara da Infância e do Adolescente foi comunicada para dar início ao procedimento que vai definir a guarda definitiva.
Ainda segundo o tio-avô, ao saber da situação, foi até a mãe da criança para entender o que havia acontecido. Depois de confirmar a informação, ele e outros familiares tentaram descobrir o local onde a criança estava sendo mantida, até que a irmã da mãe foi até o local e conseguiu resgatar o menino.
“Peguei meu carro, fui dar uma volta na vila e encontrei ela. Eu conversei e tentei saber o que estava acontecendo e ela chorou e disse que tinha feito uma besteira. Ela falou que tinha deixado um dos meninos com a avó e o outro tinha deixado num lugar não apropriado por uma quantia que tinha ficado devendo. A gente foi levantar onde era esse lugar, até que a irmã dela foi lá e resgatou o bebê e me entregou”, relatou o tio-avô.
O conselheiro tutelar Valdir Costa afirmou que os tios relataram dificuldade para retirar a criança da boca de fumo, mas que conseguiram fazer o resgate à força e sem pagar a dívida.
“Segundo informações, o valor que eles estavam devendo de droga seria algo em torno de R$ 150. É importante ressaltar que nós temos várias situações que chegam até o Conselho Tutelar de pais usuários. Infelizmente é um fato que vem sendo recorrente”, explicou o conselheiro.
Ainda de acordo com os familiares, os pais da criança são usuários de drogas e vivem nas ruas de Sarandi. Eles também têm outros dois filhos, de 6 e 11 anos, que atualmente estão sob os cuidados da avó.
O delegado Adriano Garcia, responsável pelo caso, informou que foi instaurado um inquérito policial para apurar os fatos. Segundo ele, os pais poderão responder por abandono de incapaz. A polícia também vai investigar a possibilidade de outros crimes, como sequestro — pelo fato de os traficantes terem se recusado a devolver a criança — e tráfico de drogas.
“A coisificação do ser humano é uma questão absurda ali gerada pelo vício, mais uma vez a dependência a ponto de se colocar como penhora uma recém-nascida”, declarou o delegado.
Do Ver-o-Fato, com informações do G1
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