O chamamento público da Prefeitura de Mãe do Rio n° M-2025-00002/SAMUS, com o objetivo de credenciar empresa para a prestação de serviços médicos especializados e plantões no sistema SUS, levanta suspeitas e uma denúncia foi encaminhada ao Ministério Público do Estado do Pará.
Com a divulgação do edital em 20 de março de 2025, a abertura das inscrições para a licitação se deu no dia 26 de março, e em apenas cinco dias a empresa L2 Gestão em Saúde LTDA foi anunciada no Diário Oficial do Estado como a grande vencedora.
Porém, uma série de investigações recebidas com exclusividade pelo Portal Ver-o-Fato levantam questionamentos a esse pregão no mínimo duvidoso.
Em 26 de março de 2025, a empresa vencedora ainda não possuía nem seis meses de registro do CNPJ, que foi constituído em 04/10/2024, dois dias antes das eleições municipais em que Bruno Rabelo (MDB) foi eleito prefeito do município com 52,33% dos votos válidos.
O edital exige, para fins de habilitação técnica, a apresentação de atestado(s) de capacidade técnica que demonstrem aptidão da empresa na execução de serviços
compatíveis com o objeto da contratação. Entretanto, uma empresa com menos de 6 meses de atividade não possui lastro temporal mínimo suficiente para demonstrar, de forma idônea, sua capacidade de execução de serviços contínuos e complexos por 12 meses, como exigido no certame.
A maior das suspeitas se dá após uma mulher identificada como Letícia Mattos enviar mensagens instantâneas no aplicativo WhatsApp para diversos médicos da antiga empresa gestora da saúde municipal.
O Portal Ver-o-Fato teve acesso a um print em que Letícia fala em nome da L2 Gestão em Saúde e diz que a empresa paraense é especializada na coordenação de equipes médicas em serviços de saúde em diversos municípios do Estado e deixa claro que “Estamos assumindo a gestão médica do hospital municipal de Mãe do Rio a partir de 01/04/2025”.
Porém, o grande detalhe é que a mensagem foi enviada no dia 27/03/2025, apenas um dia após a abertura das inscrições. Quatro dias depois, no dia 31/03/2025, a L2 Gestão em Saúde foi anunciada no Diário Oficial como a vencedora, ratificada em 28/03. A pergunta que não quer calar é como Letícia sabia que a empresa seria a vencedora apenas 24 horas após a abertura das inscrições para o pregão, sem sequer haver homologação de empresa vencedora.
Investigando um pouco mais sobre Letícia Mattos, descobrimos que ela é irmã de Lorena Mattos, uma famosa dermatologista estética em Belém, e ambas são sócias-proprietárias da empresa L2 Gestão em Saúde LTDA.
Um detalhe importante em tudo isso é que o edital do pregão exige que não haja grau de amizade ou parentesco entre os envolvidos, porém não precisa investigar muito para ver nas redes sociais que as irmãs Mattos são amigas de longa data da primeira-dama de Mãe do Rio, Carol Rabelo, os prints abaixo com comentários na rede social Instagram nos mostram um certo grau de intimidade entre elas.
O valor anual estimado de R$ 6.583.656,80 assusta especialistas em licitações e levanta mais suspeitas. Somente em abril, o primeiro mês de serviço da empresa, o valor utilizado e emitido em notas fiscais foi de R$ 285 mil, um aumento de 26% se compararmos com o mesmo mês em 2024.
Quem é o prefeito e a Família Rabelo?
Bruno é sobrinho de seu antecessor, o ex-prefeito Doido Rabelo (MDB), e primo da secretária municipal de saúde, Laura Rabelo, que é filha de Doido com Aurivânia Rabelo, ex-primeira-dama e secretária municipal de assistência social, envolvida no famoso “escândalo do cheque moradia”, em que ela supostamente teria “mexido os pauzinhos” no organograma do Cheque Moradia para beneficiar sua própria família.
Dentre a lista dos beneficiados estão Francisca Juliana Lima Rabelo, cunhada da primeira-dama, José Claudio Rabelo, irmão dela, e Amanda Rodrigues da Costa, esposa de Joel Rabelo, sobrinho. O mais grave é que além de parentes da primeira-dama, os três citados são servidores municipais, uma suposta mistura de fraude com nepotismo.
O trio citado não se enquadra nos quesitos exigidos pelo Cheque Moradia, que exige condição de carência e vulnerabilidade habitacional.
A manifestação citada na matéria foi registrada no sistema SAJMPPA sob o número 01.2025.00015556-5.
A equipe de reportagem do Portal Ver-o-Fato entrou em contato com a Prefeitura de Mãe do Rio, mas não obteve retorno. Tanto a prefeitura, quanto os citados na matéria seguem com espaço aberto para manifestações.
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