Após deixarem o Afeganistão para escapar das restrições impostas pelo Taleban, mulheres atletas que se refugiaram no Paquistão vivem em situação de extrema vulnerabilidade. Sem acesso a instalações de treino, com dificuldades para renovar vistos e aguardando há anos respostas a pedidos de refúgio, elas enfrentam pobreza e abandono, conforme relata a Radio Free Europe (RFE).
A atleta de jiu-jítsu Roya Abassi é um dos rostos dessa crise. Ela chegou ao Paquistão com a família há três anos, mas não consegue praticar seu esporte por falta de estrutura e meios financeiros.
“Faz três anos que registrei meu pedido de migração no Paquistão, e não há nenhuma notícia sobre o meu caso”, disse. O processo foi apresentado ao escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), com o objetivo de emigrar para um país ocidental.
Outra atleta, Shakila Muzafari, ex-integrante da equipe de basquete em cadeira de rodas do Afeganistão, vive isolada da família em Islamabad e relata dificuldades ainda maiores por ser uma refugiada com deficiência. “Como alguém que não tem renda nem apoio pode renovar o visto, que custa entre 20 mil e 25 mil rúpias (entre R$ 404 a R$ 505) por mês?”, questionou.

Ela também mencionou os custos com aluguel e denunciou a falta de oportunidades de trabalho. “Para os refugiados afegãos no Paquistão, especialmente os de nós que somos atletas com deficiência, é extremamente difícil. Não temos condições financeiras para trabalhar em lugar algum.”
A situação relatada pelas atletas encontra eco nas palavras de Abdul Hussain Hesari, ex-chefe do Comitê Paralímpico do Afeganistão. Ele afirmou que o Acnur falhou ao ignorar a condição de deficiência das atletas e disse que os documentos delas não foram processados adequadamente.
Paralelamente, o governo paquistanês também enfrenta críticas por deportar milhares de refugiados afegãos de forma sumária. Segundo organizações como a Anistia Internacional, o plano de repatriação é “opaco”, viola normas internacionais e recai sobre uma população vulnerável, forçada a fugir da repressão.
Mulheres silenciadas
A liberdade das mulheres no Afeganistão está profundamente limitada desde a ascensão do Taleban ao poder. Restrições incluem a proibição de estudar, trabalhar e sair de casa sem a presença de um homem. Isso resulta na perda de emprego para muitas mulheres, contribuindo para o empobrecimento da população.
A situação tornou-se ainda mais difícil nas últimas semanas, após a imposição de um pacote de regras anunciado em agosto que proíbe uma série de atividades, incluindo o uso de transporte público, a execução de música e a realização de celebrações.
Entre as rígidas regras impostas, o artigo 13 exige que as mulheres cubram todo o corpo, incluindo o rosto, em público para evitar “tentação”. Elas não podem usar roupas que sejam transparentes, apertadas ou curtas. Além disso, devem se cobrir completamente, mesmo na frente de pessoas que não sejam muçulmanas, para prevenir “corrupção”.
As novas leis consideram até a voz da mulher algo “íntimo demais” para ser ouvido em espaços públicos, o que na prática as proíbe de cantar, declamar ou ler em voz alta. Elas também estão proibidas de olhar para homens que não sejam seus familiares próximos, assim como os homens não podem olhar para mulheres que não sejam suas parentes.
A ONU (Organização das Nações Unidas) classificou esse regime como um caso de “apartheid de gênero”, pela sistemática exclusão das mulheres da vida pública e pela imposição de punições severas a quem resiste.
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