Conforme noticiado pelo Olhar Digital, uma equipe de astrônomos anunciou em abril que poderia ter encontrado sinais de vida em um planeta a cerca de 120 anos-luz da Terra chamado K2-18b – mas, parece que não será desta vez que vamos finalmente ter certeza de que não estamos sozinhos no Universo. Embora a possibilidade tenha atraído a atenção global, também gerou desconfiança na comunidade científica.
O planeta K2-18b é gigante, parecido com Netuno, e orbita uma estrela distante. Cientistas estudaram sua atmosfera e acreditam ter detectado sulfeto de dimetila, um gás que, na Terra, vem de microrganismos oceânicos. Esse gás seria um possível indício de vida. Mas três estudos independentes analisaram os dados mais a fundo e não encontraram provas sólidas da presença dessa molécula.

James Webb ajuda a investigar o enigma do planeta K2-18b
Segundo uma pesquisa liderada pelo astrônomo Luis Welbanks, da Universidade Estadual do Arizona, “a alegação simplesmente desaparece” após a verificação. Isso mostra como é difícil estudar planetas tão distantes. Enquanto Júpiter pode ser visto da Terra, planetas como K2-18b são invisíveis até mesmo para telescópios normais, por estarem muito longe e por não emitirem luz própria.
Para superar essa dificuldade, os astrônomos usam métodos avançados. Um deles é observar quando o planeta passa na frente de sua estrela. A luz da estrela atravessa a atmosfera do planeta, e isso permite descobrir quais gases estão presentes ali. Essa técnica já havia sido usada com sucesso no planeta GJ 1214b, revelando vapor de água em sua atmosfera.
Com o lançamento do Telescópio Espacial James Webb pela NASA, em 2021, os cientistas ganharam uma ferramenta ainda mais precisa. Ele é capaz de captar mudanças muito sutis na luz infravermelha, o que ajuda a identificar gases mesmo em atmosferas extremamente distantes. E foi justamente com esse observatório que os cientistas começaram a investigar o K2-18b com mais atenção.

Em 2023, o astrônomo Nikku Madhusudhan e sua equipe apontaram o telescópio para o K2-18b. Eles detectaram hidrogênio, dióxido de carbono e metano em sua atmosfera. Também encontraram uma possível assinatura de sulfeto de dimetila, um gás ligado à vida na Terra. Mas o sinal era fraco demais para confirmar sua presença com segurança.
No ano seguinte, a equipe decidiu fazer uma nova observação, agora com outro instrumento do telescópio, voltado para luz infravermelha de comprimentos de onda maiores. Dessa vez, a presença do sulfeto de dimetila apareceu mais forte. Segundo o artigo que descreve os resultados, havia apenas três chances em mil de o sinal ser fruto do acaso, o que animou os pesquisadores.
Luz infravermelha usada em análise pode confundir os instrumentos
De acordo com o jornal The New York Times (NYT), embora Madhusudhan seja reconhecido como um dos maiores especialistas em planetas fora do Sistema Solar, outros astrônomos resolveram checar os dados por conta própria. Uma equipe liderada por Rafael Luque, da Universidade de Chicago, por exemplo, combinou todas as observações disponíveis do K2-18b e não encontrou sinais confiáveis do tal gás, conforme relata o artigo que detalha o estudo.
Críticos argumentam que a luz infravermelha média, usada na segunda análise, pode ser muito fraca e confundir os instrumentos. O que parece ser sulfeto de dimetila pode, na verdade, ser apenas ruído. Jacob Bean, também da Universidade de Chicago, foi direto: “Não há sinal estatisticamente significativo nos dados mais recentes.”
Welbanks e sua equipe decidiram testar outra hipótese. Se realmente havia um sinal na luz do planeta, ele poderia ter vindo de outras substâncias. Eles testaram 90 moléculas diferentes que poderiam existir em um planeta como o K2-18b, sem a necessidade de vida. No final, encontraram 59 gases que poderiam ter causado o mesmo sinal.
A molécula mais provável encontrada por eles foi o propino, um gás usado como combustível em soldagem. Isso não quer dizer que há propino no planeta, mas que o sinal pode ter vindo dele, ou de outra substância parecida. Por isso, os pesquisadores afirmam que ainda é cedo demais para associar o K2-18b à vida.
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Equipe reconhece não haver certeza absoluta da presença do gás
Em resposta, Madhusudhan e seus colegas publicaram outro estudo. Eles ampliaram a análise para 650 possíveis moléculas e reafirmaram que o sulfeto de dimetila está entre as mais prováveis. Segundo ele, o gás ainda é um “bom candidato”, embora a equipe reconheça que não há certeza absoluta.
Ao NYT, Welbanks rebateu dizendo que o estudo de Madhusudhan apenas reforça que o gás em questão não se destaca tanto quanto parece. Para ele, o novo trabalho serve mais como uma “auto-refutação” do que como uma confirmação da presença do sulfeto de dimetila na atmosfera do planeta.
Novas respostas podem estar próximas. Em 2023, o pesquisador Renyu Hu, da NASA, fez novas observações do K2-18b com o telescópio Webb. Esses dados ainda não foram publicados, mas são mais extensos que os anteriores. A expectativa é que eles ajudem a resolver o mistério.
Bean acredita que essas observações trarão mais clareza ao debate. Segundo ele, “a ciência está funcionando” e os próximos meses devem trazer respostas mais confiáveis sobre o que realmente está acontecendo na atmosfera do K2-18b. Até lá, a vida fora da Terra segue sendo uma possibilidade – mas ainda sem provas.
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