Ele foi premiado várias vezes pelo mundo. Mostrou a saga dos garimpeiros em Serra Pelada, no sudeste do Pará
Sebastião Salgado, um dos maiores nomes da fotografia mundial, morreu na França, aos 81 anos, na manhã desta sexta-feira, 23. A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, fundado pelo fotógrafo e sua esposa, Lélia Wanick.
Reconhecido internacionalmente por seu trabalho, Salgado ficou marcado pelo registro de seres humanos vivendo em condições subumanas. Seu trabalho denunciou as mazelas da sociedade em mais de 40 países e chamou a atenção para a importância da justiça social e da preservação do meio ambiente.
A causa da morte não foi divulgada. No ano passado, o fotógrafo havia anunciado sua aposentadoria do trabalho de campo em entrevista ao jornal britânico The Guardian. Na ocasião, ele destacou que motivos de saúde o levaram à decisão.
Salgado nasceu em Aimorés, no interior de Minas Gerais, e foi criado em uma fazenda ao lado de sete irmãs. Formou-se em Economia antes de migrar para a fotografia, obtendo mestrado pela Universidade de São Paulo (1968) e doutorado pela Universidade de Paris (1971), onde buscou exílio durante a ditadura militar brasileira.
Ele trabalhava na Organização Internacional do Café, em Londres, quando iniciou o desejo de fotografar. A atividade exigia muitas viagens à África e Salgado gostava de documentar o que via.
Em 1974, fez seu primeiro trabalho como fotógrafo freelancer para a agência Sygma. Rapidamente se destacou, sendo contratado por outra agência, a Gamma. No final de 1979, Salgado passou a integrar a Magnum, cooperativa que revolucionou a fotografia documental no século 20, fundada por nomes como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa.
Em 1974, fez seu primeiro trabalho como fotógrafo freelancer para a agência Sygma. Rapidamente se destacou, sendo contratado por outra agência, a Gamma. No final de 1979, Salgado passou a integrar a Magnum, cooperativa que revolucionou a fotografia documental no século 20, fundada por nomes como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa.
Em 1981, Salgado foi responsável por registrar um momento histórico: o atentado ao então presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan. Ele estava na cidade de Washington quando o político foi baleado na saída do hotel. O registro foi vendido para jornais de todo o mundo e colocou o nome do fotógrafo em centenas de publicações.
Serra Pelada
Na década de 1980, ele já havia se estabelecido o suficiente para financiar projetos pessoais. No livro Outras Américas, de 1986, ele registrou povos indígena de toda a América Latina. Naquele período, o seu estilo de fotografia, quase sempre em preto e branco, passou a ser reconhecido pela comunidade mundial.
Com a série Trabalhadores, de 1997, ele documentou o trabalho manual e penoso de indivíduos ao redor do mundo, de minas de enxofre na Indonésia à pesca de atum na Sicília.
Durante a produção da série, Salgado realizou um dos trabalhos pelo qual é mais lembrado: o registro de garimpeiros na Serra Pelada, no Pará, que revela as condições desumanas em que a extração do ouro ocorria. Uma das imagens da série, a obra Mina de Ouro de Serra Pelada, Estado do Pará, Brasil, foi eleita pelo jornal New York Times como uma das 25 imagens que definem a modernidade.
O fotógrafo também se dedicou a registrar a vida de migrantes, desabrigados e refugiados nos livros Exôdo e Retratos de Crianças do Êxodo. Para o projeto, ele viajou durante seis anos por mais de 40 países. “Este livro [Êxodos] conta a história da humanidade em trânsito. É uma história perturbadora, pois poucas pessoas abandonam a terra natal por vontade própria”, escreveu ele na introdução da obra.
Em 1994, Salgado fundou a agência Amazonas Images, dedicada ao seu trabalho. A maior floresta brasileira também foi tema de seus trabalhos. O fotógrafo passou seis anos viajando pela região e documentando seus povos, rios, montanhas e animais. As imagens estão reunidas em um livro e foram apresentadas em uma exposição que passou por cidades como Paris, Rio de Janeiro e São Paulo em 2022.
O fotógrafo morava na capital francesa com a mulher, Lélia, e deixa dois filhos, Juliano, que nasceu em 1974, e Rodrigo, de 1979, que nasceu com Síndrome de Down. Ele também deixa dois netos, Flávio e Nara.
O filho mais velho, Juliano, é cineasta e lançou em 2015, ao lado do diretor Wim Wenders, o documentário O Sal da Terra, que conta a trajetória de seu pai. O longa foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário e recebeu o prêmio César, principal premiação do cinema francês.
O filme mostra as viagens de Salgado a locais remotos como o Círculo Polar Ártico e Papua Nova Guiné, que renderam uma série exposta no livro Gênesis, de 2013, que destaca as belezas naturais do mundo.
Reconhecimento e trabalho humanitário
Salgado foi reconhecido com alguns dos principais prêmios da fotografia mundial, como o Eugene Smith de Fotografia Humanitária, dois Prêmios ICP Infinity de Jornalismo, o prêmio Príncipe de Asturias, Prêmio Erna e Victor Hasselblad e o prêmio de melhor livro de fotografia do ano do Festival Internacional de Arles por Workers, por Trabalhadores.
Em 2017, ele tornou-se membro da Academia de Belas-Artes da França, uma distinção inédita para um brasileiro. No ano anterior, ele já havia recebido a medalha da Legião de Honra, a mais prestigiosa da França. Além disso, era membro da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos desde 1992.
Salgado era ativista comprometido com a causa climática e a justiça social. Era Embaixador da Boa Vontade da UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, e foi um forte crítico do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro por sua política de abrir a Amazônia para atividades como a agricultura e a mineração.
Em 1998, fundou o Instituto Terra, que mantém sede em sua cidade natal, para regenerar as florestas e a biodiversidade desaparecidas devido à deflorestação. Com informações do Estadão.
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