Em um enredo que parece extraído de um roteiro de terror, mas é, infelizmente, a mais crua realidade, a Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro, foi palco de uma história que choca pela frieza e desumanidade. Dario Antonio Raffaele D’Ottavio, um idoso de 88 anos, teve seu corpo em decomposição mantido por cerca de seis meses em um quarto de sua própria casa, enquanto seus filhos, Tania Conceição Marchese D’Ottavio e Marcelo Marchese D’Ottavio, supostamente continuavam a lucrar com os benefícios previdenciários do pai.
Um caso que mistura ganância descarada com um desapreço estarrecedor pela dignidade humana, até mesmo na morte.
Dario recebia dois benefícios do INSS, que somavam cerca de R$ 5.000 mensais: uma aposentadoria de aproximadamente R$ 3.500 e uma pensão por morte equivalente a um salário mínimo. Esses valores, acumulados desde 2014, antes da reforma da Previdência de 2019, que limitou o acúmulo integral de benefícios, continuavam ativos.
A grande questão, agora investigada pela 37ª DP (Ilha do Governador), é se os irmãos, atualmente presos, estavam se apropriando desses recursos. Segundo o delegado Felipe Santoro, a polícia aguarda laudos que determinarão a data e a causa da morte de Dario, um processo complexo devido ao avançado estado de esqueletização do corpo, já na quarta fase de decomposição.
O que torna essa história ainda mais perturbadora é a frieza com que o corpo foi mantido no quarto andar da residência, com um pano no vão da porta para conter o odor fétido da morte. Vizinhos, que estranharam o súbito “desaparecimento” de Dario — um habitué das partidas de cartas em um parque próximo —, foram os responsáveis por alertar as autoridades. A ausência do idoso, que antes era uma figura constante na comunidade, levantou suspeitas que culminaram na macabra descoberta.
Resistência e lesão
Mas o horror não para por aí. No imóvel, a polícia encontrou bens aparentemente novos, levantando a suspeita de que os filhos possam ter usado o dinheiro do pai, mesmo após sua morte, para adquiri-los. A investigação também considera a possibilidade de um crime ainda mais grave: assassinato seguido de ocultação de cadáver.
Além disso, os irmãos são suspeitos de resistência e lesão corporal, após reagirem à prisão. Eles passaram mal, foram atendidos em um hospital e, após liberação médica, encaminhados ao Complexo de Bangu. A polícia ainda apura se Tania e Marcelo sofrem de algum transtorno psiquiátrico, o que poderia lançar luz sobre tamanha barbaridade.
Se o dramaturgo Nelson Rodrigues estivesse vivo, talvez precisasse revisar suas tragédias para dar conta de tamanha sordidez. Em um contexto de densidade demográfica sufocante, onde a escassez de recursos e a desumanização parecem caminhar de mãos dadas, casos como esse escancaram o quão longe a ganância pode levar.
Nada, porém, justifica tamanha insensibilidade. Manter o corpo de um pai em decomposição, enquanto se lucra com seus benefícios, é um ato que transcende a compreensão e desafia qualquer resquício de empatia.
O fim de Dario D’Ottavio é não apenas lamentável, mas um brado para uma sociedade que, em meio à luta por sobrevivência, parece esquecer o valor da dignidade humana. Até quando permitiremos que histórias como essa se repitam?
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