São Luís aterrou fiação. Belém, não

Há cerca de duas décadas, dois arquitetos eram responsáveis pela preservação do acervo arquitetônico paraense.

Um, Paulo Chaves, como secretário estadual da Cultura.

Outro, Edmilson Rodrigues, como prefeito.

Naquele momento, esteve quase inteiramente recuperado o espaço mais nobre da Cidade do Pará, nome pelo qual Belém foi designada quando sediou o estado do Gram-Pará.

Isto poderia ser comprovado por quem se dirigisse ao Largo do Carmo, a partir da primeira edificação levantada em Belém, o Forte do Presépio.

Ou por quem, a partir daquele ponto, descesse a Rua Padre Champagnat, em direção do Largo do Palácio.

Por toda aquela área, se espalhavam obras mantidas em boas condições levantadas por construtores religiosos – como a Igreja de Santo Alexandre, e, o Palácio do Arcebispo –, e, obras de Antonio Giuseppe Landi – como o Hospital Militar, e, o Palácio dos Governadores.

Os dois arquitetos eram, ideologicamente, adversários.

Haviam se formado em períodos da História da Faculdade de Arquitetura da UFPA marcados por influências diferentes.

E, pertenciam a partidos políticos concorrentes entre si.

Mas, dentro do contexto de suas pretensões políticas e das limitações partidárias, cada um, à sua maneira, demonstrava interesse pelas obras dos construtores do passado.

 Num certo momento daquela boa fase do Centro Histórico de Belém, uma medida para garantir maior aproximação com ambiente original da primeira rua de Belém – a do Norte, hoje, Siqueira Mendes – chegou a ser cogitada: o aterramento das suas fiações elétrica e telefônica.

Algo perfeitamente viável num instante no qual Belém havia sido agraciada também com a revitalização do Mercado do Ver-o-Peso, e, com a recuperação das fachadas das lojas da mais importante via comercial da Belle Èpoque paraense, a Rua João Alfredo.

Nela, tinha sido reinstalada parte dos trilhos de uma linha de bonde destinada aos turistas.

Depois deste período, o acervo arquitetônico de Belém foi entregue a inexpressivos secretários estaduais da Cultura saídos dos porões de máquinas burocráticas de partidos políticos, e, para nossa maior infelicidade, por longo e desastroso período, à figura insólita de um prefeito, Duciomar Costa.

Sua infindável permanência no comando da capital do Pará, ficou marcado, na lembrança dos belenenses pela repulsiva e despudorada exibição de fezes humanas no Memorial da Praça da República, e, no coreto daquele belo logradouro, diante do convento franciscano.

E, ainda – inacreditável! – em frente ao próprio Palácio Antônio Lemos, onde estava o Gabinete do Prefeito.

Assim o sonho de aterrar fiações para completar o restabelecimento de ambientes nos quais se moveram nossos antepassados pareceu se tornar algo proibido aos habitantes da cidade.

No entanto, os habitantes do espaço urbano de São Luís, a outra capital do Gram-Pará, sabem que é possível preservar seu Centro Histórico, embelezando-o ainda mais através do aterramento da fiação de suas ruas.

Tão bem conservado ele foi que assegurou para São Luís a conquista do título de Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, dado pela UNESCO, uma regalia desfrutada por poucas cidades brasileiras.

Ao percorrer suas ruas, com fiações aterradas, se percebe melhor o alcance e a gravidade da desistência de projetos que ajudariam a valorizar o Centro Histórico de Belém. 

  • Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista

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