Começam as alegações no julgamento do agressor do escritor Salman Rushdie

O escritor britânico-americano Salman Rushdie durante a Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 20 de outubro de 2023KIRILL KUDRYAVTSEV

Kirill Kudryavtsev

O julgamento contra o autor do ataque que quase matou o escritor Salman Rushdie em 2022 começa nesta segunda-feira (10) no tribunal do condado de Chautauqua, no norte do estado de Nova York.

Hari Matar, um americano de origem libanesa de 27 anos, esfaqueou o autor de “Os Filhos da Meia-Noite” uma dúzia de vezes em 12 de agosto de 2022, no rosto, pescoço e abdômen, fazendo com que ele perdesse um olho e o deixou entre a vida e a morte por semanas.

Se condenado, o réu, que está detido sem direito à fiança, pode ser sentenciado a passar o resto da vida na prisão.

O escritor britânico-americano, nascido na Índia há 77 anos, deve ser uma das 15 testemunhas a depor no julgamento na cidade de Mayville, no norte do estado de Nova York.

Dada a alta relevância do caso e em uma tentativa de preservar a segurança dos 12 membros do júri, o juiz David Foley ordenou que suas identidades permanecessem anônimas.

De acordo com a acusação, Matar, um morador de Nova Jersey (nordeste), tentou intencionalmente “matar” Rushdie “e mutilou, cometeu agressão resultando em ferimentos corporais graves e agressão com uma arma perigosa” quando o escritor se preparava para dar uma palestra na Instituição Chautauqua para mil pessoas.

Matar, que se declarou inocente da tentativa de homicídio, enfrenta acusações separadas após ter sido indiciado em julho por um tribunal federal por fornecer apoio e recursos ao movimento xiita libanês Hezbollah, ligado ao Irã, que é listado pelos Estados Unidos como um grupo terrorista.

O réu e sua família imigraram do Líbano para os Estados Unidos quando Matar era criança. Após uma viagem ao Líbano, onde mora seu pai, o jovem teria se refugiado na religião e se isolado.

Rushdie foi alvo de uma fatwa (édito religioso) emitida pelo então líder supremo do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, após a publicação de sua obra mais conhecida, “Os Versos Satânicos”, em 1988.

Em sua obra “Faca: Reflexões sobre um atentado”, publicada em abril do ano passado, o escritor contou como superou o ataque e tem uma conversa imaginária com seu carrasco, cujo nome não mencionou, sobre suas crenças e motivações.

No livro, Rushdie lembra que o “imbecil que imaginou coisas sobre mim”, como ele chama o agressor, leu apenas algumas páginas do livro que motivou a fatwa.

Em uma entrevista ao jornal espanhol El País esta semana, Rushdie disse que costumava viver uma “vida perfeitamente normal”, mas depois do ataque, é “impossível não tomar precauções”, principalmente em eventos de massa.

“Agora não posso correr o risco de um novo ataque”, disse ele.

Rushdie foi vítima de mais de seis tentativas frustradas de assassinato desde a fatwa emitida pelo líder da revolução islâmica iraniana.

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