Partículas do vizinho estelar Alpha Centauri invadem o Sistema Solar

Nos últimos anos, dois objetos vindos do espaço interestelar foram vistos atravessando o Sistema Solar. O primeiro, conhecido como ‘Oumuamua, apareceu em 2017. Em 2019, foi a vez do cometa Borisov. Essas observações despertaram grande interesse nos astrônomos em descobrir de onde esses corpos vieram e quantos outros podem estar por aí.

Esses visitantes foram detectados tarde demais para estudos aprofundados. De qualquer forma, a passagem deles provou algo importante: objetos viajam entre os sistemas estelares da Via Láctea. Isso significa que o Sistema Solar pode estar recebendo fragmentos de outros lugares há muito tempo. E um dos melhores candidatos para essa troca de material é Alpha Centauri, nosso sistema estelar vizinho mais próximo.

Oumuamua (Crédito: ESO/M. Kornmesser)
‘Oumuamua, objeto interestelar descoberto no Sistema Solar em 2017. Crédito: ESO/M. Kornmesser

Proximidade do sistema Alpha Centauri com a Terra

O sistema Alpha Centauri (AC) fica a cerca de 4,3 anos-luz de nós. Ele é formado por três estrelas: Alpha Centauri A e B, que formam um par binário, e Proxima Centauri, uma anã vermelha menor e mais distante. 

Atualmente, AC está se movendo em nossa direção a uma velocidade de aproximadamente 79 mil km/h. Daqui a 28 mil anos, atingirá sua aproximação máxima, ficando a 200 mil vezes a distância da Terra ao Sol.

Esse movimento sugere que materiais originados em AC podem estar atravessando o espaço e chegando até nós. Mas, como isso acontece? E será que já encontramos alguma evidência desse material em nosso Sistema Solar?

Dois cientistas da Universidade de Western Ontario, no Canadá, Cole Greg e Paul Wiegert, investigaram essa possibilidade. Eles publicaram uma pesquisa no Planetary Science Journal chamada “Um estudo de caso de entrega de material interestelar: Alpha Centauri”. O trabalho explora como partículas e objetos podem ser ejetados de Alpha Centauri e viajar até nós.

Sabemos que sistemas estelares, incluindo o nosso, lançam material para o espaço. Cometas e asteroides podem ser expulsos por interações gravitacionais com planetas gigantes, como Júpiter. Esse processo pode lançar objetos para fora do Sistema Solar. O mesmo deve acontecer em Alpha Centauri, ejetando poeira, rochas e até cometas em nossa direção.

Alpha Centauri (centro) e Beta Centauri (à direita), as duas estrelas mais brilhantes da constelação de Centaurus, com parte do sul da Via Láctea ao fundo. Crédito: Brian Donovan – Shutterstock

Quanto material de Alpha Centauri pode chegar até o Sistema Solar?

O estudo estima que a Nuvem de Oort – uma região distante no Sistema Solar, repleta de corpos gelados – pode conter cerca de um milhão de partículas originadas em Alpha Centauri com mais de 100 metros de diâmetro. No entanto, esses objetos são extremamente difíceis de detectar. A maioria está longe demais do Sol para refletir luz suficiente e ser observada por telescópios.

Mesmo assim, algumas dessas partículas podem estar mais próximas. Os pesquisadores calculam que há uma chance em um milhão de que um objeto interestelar desse tipo esteja a apenas 10 vezes a distância da Terra ao Sol. Isso significa que, embora existam muitos objetos de Alpha Centauri no espaço, poucos são visíveis para nós.

O que acontece com essas partículas?

Para um fragmento de Alpha Centauri alcançar o Sistema Solar, ele precisa enfrentar vários desafios. Partículas pequenas, como grãos de poeira, podem ser destruídas durante a viagem. O meio interestelar é um ambiente hostil, repleto de radiação e forças magnéticas que podem desintegrar ou desviar esses materiais.

O estudo analisou quais partículas poderiam sobreviver à jornada. Os cientistas descobriram que grãos de poeira com cerca de 3,3 micrômetros de diâmetro – muito menores que um fio de cabelo humano – podem percorrer grandes distâncias sem serem destruídos. Esses grãos viajariam até 4.200 anos-luz antes de se dissiparem completamente.

Isso significa que é possível que já existam partículas de Alpha Centauri na Terra. No entanto, elas são tão pequenas que não podem ser detectadas por radares meteorológicos, como os da Zephyr Meteor Radar Network, no Colorado.

Outro ponto interessante do estudo é a possibilidade de meteoros de Alpha Centauri atingirem nossa atmosfera. Segundo os cálculos, cerca de 10 partículas desse sistema podem estar entrando na atmosfera da Terra agora. Esse número pode aumentar em dez vezes nos próximos 28 mil anos, quando Alpha Centauri estiver mais próximo de nós.

Se isso for confirmado, seria uma evidência direta de que há uma troca de material entre os sistemas estelares. E mais: esses fragmentos podem conter pistas sobre os planetas ao redor de Alpha Centauri.

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O que isso significa para a ciência?

Se Alpha Centauri realmente está enviando material para o nosso Sistema Solar, isso pode mudar nossa compreensão sobre a formação de planetas. Esses fragmentos podem conter minerais e compostos químicos que nos ajudem a entender se os planetas de AC são semelhantes à Terra.

Além disso, essa descoberta reforça que os sistemas estelares não estão isolados. O trânsito de matéria entre eles pode ser mais comum do que imaginamos. Isso pode até ter implicações para a busca por vida extraterrestre: se os materiais que formam planetas podem viajar entre as estrelas, será que os blocos fundamentais da vida também poderiam?

Apesar dos avanços, há muitas incertezas. Os cientistas ainda não sabem a quantidade exata de material sendo ejetado de Alpha Centauri. Isso torna difícil prever quantos fragmentos poderiam estar no nosso Sistema Solar.

Outro desafio é a detecção. Muitos desses objetos são pequenos demais para serem observados com os telescópios atuais. Para confirmar essas hipóteses, serão necessários novos instrumentos e métodos de observação mais sensíveis.

No entanto, a pesquisa já oferece um vislumbre fascinante de como nosso Sistema Solar está conectado ao resto da galáxia. Não somos uma ilha no espaço. E talvez, ao estudar essas partículas interestelares, possamos descobrir muito mais sobre o Universo ao nosso redor.

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