Por que os plátanos são associados à chegada do outono?


Originária do Hemisfério Norte, árvore transforma paisagens devido ao fenômeno do envelhecimento foliar. Plátano ou bordo é árvore associada à chegada do outono
Timo Fric / iNaturalist
Com folhas que mudam de cor e criam um verdadeiro espetáculo visual no outono, os plátanos são árvores bastante apreciadas, especialmente em regiões de clima mais ameno.
Embora não sejam nativas do Brasil, elas marcam presença nas paisagens urbanas e rurais, sobretudo no Sul e no Sudeste do país. Mas como essas espécies chegaram por aqui? Quais são suas características e impactos ambientais?
Segundo o botânico André Vito Scatigna, doutor em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o plátano foi possivelmente introduzido no Brasil no século XIX, trazido por imigrantes italianos. Seu cultivo pode ter sido motivado tanto por fins ornamentais quanto para auxiliar no bloqueio de ventos em parreirais.
Plátano-da-califórnia (Platanus racemosa)
Fred Melgert e Carla Hoegen / iNaturalist
Como são originários de regiões de clima subtropical e temperado, os plátanos se adaptaram bem ao clima de estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
A espécie, também chamada de bordo, é frequentemente associada à chegada do outono devido às mudanças na coloração de suas folhas. Durante essa estação, o verde dá lugar a tons de amarelo, laranja e vermelho antes da queda das folhas.
Esse fenômeno ocorre por um processo chamado senescência ou envelhecimento foliar, no qual os pigmentos das folhas se degradam e os nutrientes são realocados para outras partes da planta, garantindo sua sobrevivência em condições climáticas mais severas.
Espécie ocorre em regiões de clima subtropical e temperado
Timo Fric / iNaturalist
“Isso ocorre porque, em ambientes onde o inverno é mais rigoroso, o transporte de água dentro da planta é bastante reduzido, de forma que a folha perde uma das principais funções, que é justamente o de força motriz da subida de água pelos vasos do xilema (sistema vascular) através da evapotranspiração (perda de água pelas folhas para a atmosfera)”, explica Scatigna.
“Assim, a senescência, seguida da queda das folhas é uma adaptação para economia de energia. Isso também ocorre em plantas do Cerrado e da Caatinga quando passam por períodos de seca”, completa.
A coloração outonal é mais evidente em regiões de clima temperado e subtropical, onde há maior variação térmica ao longo do ano.
Espécies encontradas no Brasil
Das 10 espécies de plátanos conhecidas mundialmente, apenas três são encontradas no Brasil:
Platanus orientalis: originário da Europa mediterrânea e do Oriente Médio;
Platanus occidentalis: nativo dos Estados Unidos;
Platanus x hispanica: um híbrido das duas espécies anteriores.
Por um lado a queda das folhas dos plátanos contribui para a ciclagem de nutrientes, uma vez que o material vegetal acumulado no solo se decompõe e libera nutrientes essenciais para outras plantas. Essa camada de folhas forma um ecossistema conhecido como serrapilheira, que abriga diversos organismos, como insetos, minhocas e pequenos vertebrados.
No entanto, é importante priorizar árvores nativas na arborização urbana, como diz o especialista. “Seu cultivo é comum no Sul e Sudeste, muitas vezes por questões estéticas, remetendo a paisagens europeias e norte-americanas”.
“O que é uma pena, já que estamos no país com a maior diversidade vegetal do mundo e temos espécies nativas que poderiam ser cultivadas em cidades, incluindo espécies com muitas flores exuberantes como muitos ipês, plantas sem flor, como araucárias e podocarpos, e plantas frutíferas nativas, como os araçás”, completa.
Além disso, a árvore deixa de fornecer sombra durante o inverno por conta da queda das folhas. Embora o plátano não seja uma espécie nativa, não há indícios de que cause impactos ambientais negativos significativos no Brasil
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