O Governo do Acre apresentou ao vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, um projeto de integração rodoviária com o Peru.
A iniciativa visa criar uma nova rota de escoamento da produção acreana para os portos do Oceano Pacífico, utilizando o município de Cruzeiro do Sul como ponto de partida.
Durante a reunião realizada em Brasília no dia 27 de março de 2025, o secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre, Assurbanípal Mesquita, destacou que a rota facilitaria o transporte de commodities como soja e carne diretamente aos mercados asiáticos por meio do Porto de Chancay, no Peru, eliminando a necessidade de passar pelo Canal do Panamá.
Segundo ele, o projeto busca atrair investimentos e fortalecer o Acre como elo logístico entre o Brasil e os países da costa pacífica.

“O Acre tem esse grande potencial, por estar numa posição geográfica estratégica, num contexto geoeconômico muito interessante, mas para isso alguns investimentos são necessários”, disse
Obstáculos ambientais e jurídicos
Apesar do potencial econômico, a proposta enfrenta desafios jurídicos e ambientais. Em junho de 2023, a Justiça Federal suspendeu a construção da estrada que conectaria Cruzeiro do Sul a Pucallpa, no Peru, devido aos impactos sobre o Parque Nacional da Serra do Divisor e terras indígenas.
A decisão atendeu a uma ação civil pública movida por organizações ambientais e indígenas do Acre.
O edital que previa a construção foi anulado por descumprir exigências legais, como a realização de estudos técnicos e ambientais e a consulta prévia a comunidades tradicionais e povos indígenas isolados.
A sentença também proibiu o Ibama de iniciar o licenciamento ambiental até que essas condições fossem cumpridas.
A estrada afetaria terras indígenas como Poyanawa, Nawa, Nukini, Jaminawa do Igarapé Preto, Arara do Rio Amônia, Kampa do Rio Amônia e Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu, além da Reserva Extrativista do Alto Juruá e os Projetos de Assentamento Havaí, São Pedro e Paraná dos Mouras.
No lado peruano, comunidades indígenas em isolamento voluntário na Reserva Isconahua e na Reserva Comunal Alto Tamaya Abujão também seriam impactadas.
Rejeição de organizações indígenas e socioambientais
Em abril de 2024, a Comissão Transfronteiriça Yurúa/Alto Tamaya/Alto Juruá reforçou seu posicionamento contrário à construção de estradas na fronteira Acre-Peru. O documento criticou a estrada Cruzeiro do Sul–Pucallpa e a rota Nueva Itália–Puerto Breu (UC-105), no Peru.
As organizações alertam que os projetos rodoviários aumentariam desmatamento, atividades ilegais como narcotráfico e extração de madeira, além de ameaçar a segurança alimentar e cultura indígena.
Elas denunciam que parte dos trechos já foi aberta irregularmente, inclusive com o envolvimento de empresas madeireiras.
Debate sobre desenvolvimento e preservação ambiental
A disputa jurídica e ambiental em torno da estrada expõe um impasse entre as estratégias de desenvolvimento econômico e as demandas de proteção territorial de comunidades indígenas e entidades socioambientais.
Com a obra judicialmente suspensa, o debate sobre a integração rodoviária Brasil-Peru permanece em aberto e sem previsão de solução.
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