China denuncia ‘espionagem’ e prende cidadãos das Filipinas, que falam em retaliação

Três cidadãos filipinos foram detidos na China sob acusação de espionagem, em um episódio que pode marcar um novo capítulo na escalada de tensões entre Manila e Beijing. Segundo o governo das Filipinas, a prisão pode ter sido uma resposta direta à recente repressão contra agentes chineses suspeitos de atividades clandestinas em território filipino. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

A agência estatal chinesa Xinhua informou que os detidos teriam atuado a mando da inteligência filipina, coletando informações sigilosas sobre instalações militares da China. Ainda de acordo com o veículo, os três já teriam confessado o crime. Mas o Conselho de Segurança Nacional das Filipinas (NSC) negou com veemência qualquer vínculo dos presos com o setor de inteligência do país.

“Eles são cidadãos cumpridores da lei, sem antecedentes criminais, e foram avaliados e autorizados pelo governo chinês antes de sua chegada ao país”, afirmou Jonathan Malaya, vice-diretor-geral do NSC. Ele ressaltou que os três presos participaram de um programa de bolsas de estudos promovido por um acordo entre a província chinesa de Hainan e a província filipina de Palawan.

Barcos com mísseis anexados da Marinha da China em abril de 2024 (Foto: eng.chinamil.com.cn/Wan Songtao)

Malaya sugeriu que as prisões podem ter motivações políticas. “As prisões podem ser vistas como uma retaliação à série de detenções legítimas de agentes e cúmplices chineses por parte das autoridades filipinas”, declarou. Nas últimas semanas, o governo filipino tem prendido cidadãos chineses suspeitos de espionagem em operações sigilosas.

Em março, por exemplo, seis chineses e um filipino foram flagrados perto da Baía de Subic, fingindo ser pescadores enquanto coletavam dados sensíveis sobre defesa. Já em janeiro, um engenheiro de software chinês e dois filipinos foram detidos por supostamente mapear áreas estratégicas, incluindo bases militares acessadas por tropas dos EUA.

O episódio mais recente ocorre em meio a confrontos crescentes no Mar da China Meridional. Nos últimos meses, helicópteros militares chineses chegaram a voar a apenas três metros de aviões de patrulha filipinos. Enquanto isso, Manila vem reforçando sua aliança com Washington e Tóquio, realizando exercícios navais conjuntos nas águas disputadas.

Por que isso importa?

Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.

A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania na área.

No caso específico da relação entre Beijing e Manila, a disputa inicial ocorreu no atol de Scarborough Shoal, hoje sob controle chinês. Mas esse não foi o principal palco de desentendimentos. A situação tornou-se particularmente tensa um pouco mais ao sul, em Second Thomas Shoal, onde as Filipinas usam um navio encalhado, o Sierra Madre, como base militar improvisada para fazer valer suas reivindicações.

Embora Second Thomas Shoal esteja na ZEE filipina, a China o reivindica como parte do seu território e exige que o navio encalhado seja removido. Como os pedidos não são atendidos, passou a assediar as missões que levam suprimentos aos militares estacionados ali, a ponto de os EUA terem oferecido escolta armada ao aliado.

Mais recentemente, Beijing adotou estratégia semelhante em Sabina Shoal, com navios de sua Marinha e Guarda Costeira assediando embarcações das Filipinas, que por sua vez acusam Beijing de realizar ações ilegais para assumir o controle da área.

Embora as Filipinas tenham conseguido se estabelecer em duas das três áreas disputadas, têm poucas alternativas para resistir a uma eventual agressão chinesa. Apostam tudo no Tratado de Defesa Mútua de 1951 com os EUA, que prometem partir em defesa do aliado se este for atacado.

Beijing, entretanto, não se deixa afetar. “A China está deliberadamente escalando a situação, com uma provável intenção de testar até que ponto Washington apoiaria Manila”, avaliou à rede CNN Collin Koh, pesquisador da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura. “Os chineses sabem que Manila tem opções muito limitadas se não puder depender da ajuda dos EUA.”

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