Com irreverência e bom humor, um jovem paraense viralizou nas redes sociais ao relatar, em vídeos bem-humorados, os desafios enfrentados durante uma curta — e bastante intensa — passagem por uma loja de comerciantes chineses no centro de Belém.
O detalhe que mais chamou atenção? Ele suportou apenas dois dias no emprego antes de pedir demissão. Entre os relatos mais chocantes, o jovem conta que sequer podia beber água durante o expediente — algo que os comentários confirmam com indignação e certo tom de resignação. “Por isso que só vive com a placa ‘estamos aceitando currículo’”, escreveu uma usuária. Outra seguidora afirmou: “Trabalhar de CLT em Belém especificamente é uma ESCRAVIDÃO (…) Deus me livre, quero qualidade de vida… porém, NUNCA mais CLT afff”.
A viralização do caso reacendeu uma discussão já conhecida por quem acompanha de perto o comércio popular da capital paraense: as denúncias de condições de trabalho abusivas em lojas administradas por estrangeiros, especialmente por chineses. O fenômeno, embora agora amplamente documentado por usuários nas redes sociais, já havia sido tema de reportagem publicada pelo Ver-O-Fato em 2021.
Na reportagem, relatos de ex-funcionários apontavam para jornadas exaustivas, proibição de pausas para alimentação ou hidratação, vigilância constante, humilhações verbais e até revistas ao entrar e sair do trabalho. “Era proibido ficar parado”, contou um trabalhador na época. “Se não houvesse cliente, tínhamos que desorganizar e reorganizar a loja só para parecer que estávamos ocupados”.
Esse tipo de experiência, agora compartilhada nas redes sociais, escancara uma realidade que antes circulava quase que exclusivamente nos bastidores do comércio. O jovem viralizou, mas seu relato está longe de ser isolado. O que muda é a forma de exposição: o humor, ainda que traga leveza, também serve como denúncia.
O esquema de ilegalidades
O crescimento da presença chinesa no comércio de Belém é parte de um movimento global. Com a abertura econômica promovida na China a partir das décadas de 1980 e 1990, milhões de chineses migraram pelo mundo para desenvolver negócios — o Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, é um dos destinos mais recentes e marcantes. A China já contabiliza milhões de cidadãos em diáspora, espalhados por diversos países.
Com isso, vieram produtos baratos e vagas de emprego. No entanto, o que antes parecia vantajoso para a economia local começa a gerar insatisfação — tanto por parte dos trabalhadores, quanto de lojistas brasileiros, que denunciam concorrência desleal. “Eles vendem sem nota fiscal e com produtos mais baratos porque importam direto da China. Como competir?”, reclamou uma comerciante local ao Ver-O-Fato.
Clientes também têm suas queixas. Dificuldade para trocar produtos defeituosos, grosserias durante o atendimento e falta de emissão de nota fiscal são reclamações recorrentes. A situação pode escalar para protestos e reações xenofóbicas se não houver mediação e políticas públicas que regulem a convivência comercial e protejam os direitos trabalhistas.
Neste contexto, o caso do jovem paraense não é apenas cômico, mas um retrato escancarado da precariedade no mercado de trabalho informal. A exposição viral trouxe à tona perguntas importantes: onde estão os órgãos fiscalizadores, como o Ministério Público do Trabalho, a Delegacia Regional do Trabalho e o Ministério Público do Estado do Pará? Até quando os casos de abuso será a regra e não a exceção?
Enquanto isso, nas redes sociais, o debate continua entre gargalhadas e reflexões. Afinal, como diriam os paraenses, será que ele fez o certo… ou só está sendo “nutella”?
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