
Localizado em uma ilha rochosa na Baía de São Francisco, o presídio de Alcatraz já foi sinônimo de isolamento e segurança máxima. Suas celas abrigaram alguns dos criminosos mais temidos dos Estados Unidos, como Al Capone e George “Machine Gun” Kelly, até seu fechamento em 1963. Mais de seis décadas depois, o local – hoje um museu visitado por milhões de turistas – voltou aos holofotes após um anúncio surpreendente: o ex-presidente Donald Trump propôs reabrir a prisão para abrigar os “criminosos mais perigosos” do país.
Em uma publicação em sua rede social Truth Social no dia 4 de maio, Trump defendeu a reconstrução de Alcatraz em escala ampliada, descrevendo-a como uma solução para encarcerar “infratores violentos e reincidentes” que, em suas palavras, “espalham caos e violência”. Ele argumentou que, no passado, os EUA eram “uma nação mais séria” ao isolar prisioneiros considerados uma ameaça à sociedade. A proposta inclui uma parceria entre o Departamento de Justiça, o FBI e a Secretaria de Segurança Nacional para viabilizar o projeto, que teria como alvo também imigrantes em situação irregular condenados por crimes graves.
Um Legado de Isolamento e Custos Elevados
Inaugurada em 1934, Alcatraz foi projetada para ser inescapável. Cercada por águas geladas e correntes marítimas perigosas, a prisão ganhou fama por sua localização estratégica. No entanto, o que a tornava única também contribuiu para seu declínio. Manter o funcionamento da ilha era extremamente caro. De acordo com registros históricos, o custo diário por detento em Alcatraz chegava a US$ 13 (equivalente a cerca de US$ 130 hoje), mais que o dobro da média das outras penitenciárias federais da época.
Além dos gastos com segurança, o transporte de suprimentos era um desafio logístico. Tudo – desde alimentos até água potável – precisava ser levado de barco. Sem fontes naturais de água na ilha, quase 3,8 milhões de litros eram transportados semanalmente. A estrutura física também exigia reparos constantes. Em 1963, o então prefeito de São Francisco, George Christopher, estimou que seriam necessários até US$ 5 milhões (aproximadamente US$ 52 milhões atualmente) para revitalizar o complexo, valor considerado proibitivo para o governo.

Donald Trump ordenou a reabertura de Alcatraz seis décadas após o fechamento da prisão.
De Presídio a Ponto Turístico
Após o fechamento, Alcatraz passou por um processo de transformação. Nos anos 1970, a ilha foi incorporada ao Sistema de Parques Nacionais e se tornou um dos destinos mais procurados da Califórnia. Atualmente, recebe cerca de 1,5 milhão de visitantes por ano, que exploram as celas preservadas e aprendem sobre histórias de fugas lendárias, como a de 1962, que inspirou o filme *Fuga de Alcatraz*. A renda gerada pelo turismo sustenta empregos e contribui para a economia local, um detalhe que críticos da proposta de Trump destacam.
Viabilidade Sob Questionamento
A ideia de reabrir Alcatraz como prisão enfrenta ceticismo. Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes e congressista pela Califórnia, classificou o plano como “pouco sério”, lembrando que a ilha já cumpre um papel cultural e econômico relevante. Scott Wiener, senador estadual de São Francisco, foi mais contundente: chamou a proposta de “absurda” e parte de uma “cruzada para sabotar o Estado de Direito”, referindo-se às críticas de Trump ao sistema judiciário.
Especialistas em logística penitenciária também apontam obstáculos práticos. Modernizar a ilha para atender aos padrões de segurança do século XXI exigiria investimentos massivos em infraestrutura, incluindo sistemas de vigilância, energia e acesso marítimo. Além disso, o transporte regular de agentes prisionais e a manutenção de um presídio em uma área remota poderiam replicar os mesmos problemas financeiros que levaram ao fechamento original.

Hoje museu, Alcatraz atrai aproximadamente 1,5 milhão de turistas anualmente.
O Simbolismo Por Trás da Proposta
Independentemente da viabilidade, a menção a Alcatraz ressoa como um símbolo. Para apoiadores de políticas de “tolerância zero”, a imagem da prisão representa uma era de rigor no combate ao crime. Trump, que fez da segurança pública um dos pilares de sua campanha eleitoral, parece capitalizar esse imaginário. Em seu post, ele associou a reabertura à necessidade de afastar “criminosos ilegais” da sociedade, em uma crítica indireta às políticas de imigração de seu rival, Joe Biden.
Por outro lado, historiadores lembram que Alcatraz nunca foi tão eficiente quanto sua fama sugere. Apesar de sua reputação de segurança, houve 14 tentativas documentadas de fuga, envolvendo 36 detentos. Em 1962, três homens conseguiram sair da ilha – embora seus corpos nunca tenham sido encontrados, oficialmente são considerados afogados. O mito de “inescapável”, portanto, é parte de uma narrativa que mistura realidade e ficção.
Enquanto o debate político segue, Alcatraz permanece como um testemunho silencioso de diferentes épocas. Suas paredes desgastadas contam histórias de gangsters da Era Proibição, de protestos indígenas nos anos 1970 (quando a ilha foi ocupada por ativistas) e de curiosos que caminham por seus corredores vazios. Se um dia voltará a ser uma prisão, a resposta parece depender menos de sua história e mais dos rumos da política americana.
Esse Por que a prisão mais famosa dos EUA foi fechada e agora Trump quer reabri-la? foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.