Geleira símbolo da Patagônia perde 2 km em sete anos e preocupa cientistas

A geleira Perito Moreno, localizada no sul da Argentina, próxima à fronteira com o Chile, é uma das paisagens naturais mais conhecidas da América do Sul. Com 260 km² de área, ela atrai centenas de milhares de turistas por ano. Em 2024, mais de 700 mil pessoas passaram pelas passarelas do Parque Nacional Los Glaciares para admirar essa imensa muralha de gelo – que vem diminuindo significativamente.

Neste ano, os visitantes notaram algo alarmante: grandes blocos de gelo se desprenderam e chegaram a bloquear temporariamente o píer de onde saem os barcos. Essas quebras são comuns, mas o tamanho dos icebergs chamou a atenção. Para os cientistas, isso é um sinal claro de que a geleira mais famosa da Patagônia está perdendo massa de forma acelerada.

Em poucas palavras:

  • Famoso ponto turístico da Argentina, a geleira Perito Moreno vem sofrendo redução acelerada;
  • Em 2024, grandes blocos de gelo se desprenderam, bloqueando temporariamente o píer e indicando perda de massa;
  • Até 2018, a geleira era estável, mas desde então as margens recuaram e sua altura diminuiu rapidamente;
  • Cientistas atribuem o recuo ao aumento da temperatura causado pelas mudanças climáticas, que aceleram o derretimento;
  • O gelo perdido supera o ganho natural, mostrando que a geleira não consegue mais se equilibrar naturalmente;
  • A diminuição das rupturas e cortes no monitoramento dificultam o estudo e indicam um recuo irreversível.
Aumento da temperatura provocado pelas mudanças climáticas é a principal causa do derretimento da Geleira Perito Moreno. Crédito: Mizzick – Shutterstock

Até 2018, Perito Moreno era uma geleira estável. Ela ganhava gelo nas partes mais altas e perdia na base, mas esses dois processos se equilibravam. A partir do ano passado, porém, esse equilíbrio se rompeu. Desde então, a geleira começou a recuar. Suas margens encolheram cerca de dois quilômetros e sua altura vem diminuindo rapidamente.

Especialistas ligam retração acelerada da geleira às mudanças climáticas

O engenheiro geofísico Pedro Skvarca, de 81 anos, que estuda a geleira há mais de três décadas, foi um dos primeiros a alertar que o Perito Moreno estava mudando. Segundo ele, o aumento da temperatura provocado pelas mudanças climáticas é a principal causa. “Com o clima mais quente, há mais derretimento e mais água sob a geleira, que se move mais rápido e afina”, explicou o cientista ao jornal El País.

Lucas Ruiz, geólogo especialista em glaciares, confirma que o Perito Moreno não escapa da tendência global de retração das geleiras. Por mais de um século, ele foi uma exceção ao acumular gelo suficiente para compensar as perdas. Agora, isso mudou. A quantidade de gelo que se perde é maior do que a que se forma.

Essa geleira começa no Campo de Gelo Patagônico Sul e avança lentamente até o Lago Argentino. Em sua parte central, se move cerca de dois metros por dia. Mas, mesmo se deslocando, está perdendo volume mais rápido do que consegue repor. O afinamento do gelo é visível a olho nu, especialmente na frente, onde há um paredão de cinco km de largura e mais de 60 metros de altura.

Perito Moreno é um dos pontos turísticos mais famosos da América do Sul. Crédito: Justo Ismael Lassaga – Shutterstock

Leia mais:

  • Como geleiras gigantes deram origem à vida complexa na Terra
  • Geleiras derretidas encheriam 3 piscinas olímpicas por segundo
  • Em breve, geleiras vão formar cemitério; entenda

Perito Moreno perde um metro de espessura por ano

Outro sinal preocupante é a diminuição da famosa “ruptura” da geleira. Esse fenômeno ocorre quando o gelo avança até uma península e bloqueia parte do lago, formando uma espécie de represa. A pressão da água rompe a barreira com um estrondo. A última grande ruptura aconteceu em 2018. Em 2022, houve apenas um pequeno evento, que durou uma semana.

Ruiz explica que, quando a geleira perde contato com a península, as chances de uma nova ruptura diminuem muito. Segundo ele, o comportamento das geleiras que terminam em lagos depende da relação entre a espessura do gelo e a profundidade da água. Quando a água é mais profunda, o gelo tende a flutuar e se romper.

Em média, o Perito Moreno perde o equivalente a um metro de espessura por ano. Na frente, esse número chega a oito metros. Os cientistas chamam esse processo de “recuo irreversível”, pois, uma vez iniciado, dificilmente se estabiliza sem mudanças no clima. Além disso, cortes no orçamento da ciência argentina dificultam o monitoramento dessa geleira tão importante para o país e para o planeta.

O post Geleira símbolo da Patagônia perde 2 km em sete anos e preocupa cientistas apareceu primeiro em Olhar Digital.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.