Uma nova onda de ataques do Boko Haram voltou a abalar o nordeste da Nigéria, onde militantes extremistas têm invadido bases militares, colocado bombas em estradas e atacado comunidades civis desde o início do ano. O cenário faz crescer o temor de que o país retorne aos anos mais sangrentos do conflito iniciado em 2009, de acordo com a agência Associated Press (AP).
Na semana passada, insurgentes mataram nove integrantes de uma milícia civil na aldeia de Gajibo, no estado de Borno, considerado o epicentro da crise. Segundo trabalhadores humanitários locais, os militares abandonaram o posto antes do ataque ao perceberem a aproximação dos combatentes. Outras ações violentas incluíram explosões em estradas e ofensivas contra vilarejos, resultando em dezenas de mortos nas últimas semanas.
O Boko Haram se dividiu em duas facções rivais. Uma delas, o ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), é ligada ao grupo Estado Islâmico (EI) e se especializou em ações contra instalações militares. De acordo com relatórios de segurança e levantamento da AP, o ISWAP já derrotou tropas nigerianas em ao menos 15 ocasiões neste ano. A outra ala, Jama’atu Ahlis Sunna Lidda’awati wal-Jihad (JAS), concentra seus ataques em civis e se sustenta com sequestros e assaltos.

Em maio, o ISWAP atacou simultaneamente bases militares em Gajibo, Buni Gari, Marte, Izge e Rann, além de atingir instalações conjuntas entre Nigéria e Camarões nas localidades de Wulgo e Soueram. O grupo também realizou ofensivas em Malam Fatori, Goniri, Sabon Gari, Wajiroko e Monguno, frequentemente durante a noite e com armas leves, porém eficazes.
“Os ataques simultâneos em diferentes regiões mostram a sofisticação estratégica crescente do ISWAP”, afirmou Malik Samuel, pesquisador da ONG Good Governance Africa. Segundo ele, a descentralização e o apoio logístico do EI no Iraque e na Síria explicam a capacidade do grupo de usar drones adaptados para lançar explosivos e realizar emboscadas rápidas com grande eficiência.
A resposta do Exército tem sido prejudicada por bases mal equipadas e localizadas em regiões isoladas. “Quando esses homens armados chegam, simplesmente sobrepujam os soldados”, disse Ali Abani, funcionário de uma ONG que acompanha operações militares em Dikwa. Ele relata que os reforços, quando acionados, chegam tarde demais, permitindo que os insurgentes levem as armas abandonadas pelas tropas.
Nos bastidores, também crescem as denúncias sobre ex-combatentes que continuam colaborando com os jihadistas após suposta reintegração à sociedade. Diante da escalada, o governador de Borno, Babagana Zulum, alertou para o risco de se perder os avanços conquistados nos últimos anos. “As formações militares estão sendo desmanteladas quase diariamente, sem qualquer enfrentamento”, declarou.
Parlamentares nigerianos pedem reforço no orçamento militar e alertam para o nível de sofisticação dos armamentos usados pelos extremistas. O Exército não comentou oficialmente, mas comandantes visitaram na semana passada a região de Gamboru, na fronteira com Camarões, e prometeram enviar mais tropas para combater o Boko Haram.
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