O julgamento de três cidadãos com dupla nacionalidade alemã e russa em Munique, na Alemanha, sob acusação de planejarem atos de sabotagem a mando de um espião do Kremlin, tornou-se símbolo de uma prática cada vez mais comum entre os serviços secretos russos: a contratação de civis sem vínculos diretos com a inteligência para realizar atentados contra alvos estratégicos europeus. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
“O perigo dos chamados agentes descartáveis ou de uso duplo está crescendo constantemente”, alertou Konstantin von Notz, deputado do Partido Verde e integrante do comitê parlamentar que fiscaliza os serviços secretos da Alemanha. Para ele, o avanço dessa estratégia exige uma reorganização urgente dos sistemas de contraespionagem do país.

Os três réus, detidos em abril de 2024, são acusados de conspirar para realizar ataques com explosivos e incêndios criminosos em locais como uma base militar dos EUA e uma instalação de petróleo. Segundo os promotores, o grupo era liderado por Dieter S., que teria sido recrutado por um agente russo com quem teve contato ainda em 2014, quando lutou com separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia.
A prática de recrutar indivíduos comuns, sem histórico militar ou de espionagem, é uma das marcas da nova abordagem de Moscou, apontam especialistas. “Elementos criminosos são aliciados, muitas vezes por meio da dark web ou do Telegram. Frequentemente, são pessoas que só querem ganhar algum dinheiro”, afirmou Frank Umbach, especialista em segurança da Universidade de Bonn.
Casos semelhantes vêm sendo registrados em diversos países europeus. Em maio, três cidadãos ucranianos também foram indiciados por planejar sabotagens em solo alemão. Na Polônia, um refugiado ucraniano foi condenado a oito anos de prisão após admitir que receberia US$ 4 mil (R$ 22,5 mil) para realizar ataques incendiários, embora alegue não saber para quem trabalhava.
Além do desafio crescente para os serviços de segurança, os ataques têm objetivos claros: segundo a promotoria alemã, buscam desestabilizar o apoio europeu à Ucrânia e gerar insegurança entre os civis. “A mensagem é direta: seu governo não pode protegê-lo totalmente”, concluiu Umbach.
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