China cobra valor recorde de países pobres e reduz novos empréstimos, aponta estudo

Em 2025, 75 dos países mais pobres e vulneráveis do mundo deverão transferir US$ 22 bilhões (R$ 116 bilhões) à China em pagamentos de dívida — o maior valor já registrado —, ao mesmo tempo em que o volume de novos empréstimos oferecidos por Beijing caiu ao nível mais baixo em quase duas décadas. A constatação é do pesquisador Riley Duke, em estudo publicado pelo Instituto Lowy, da Austrália.

Grande parte dessas dívidas foi contraída durante o pico da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), entre 2013 e 2016, quando a China ultrapassou todos os países ocidentais somados no volume de crédito bilateral oferecido. Agora, com o vencimento dos contratos, os pagamentos anuais à China dispararam. Somando todas as economias em desenvolvimento, o valor total chega a US$ 35 bilhões (R$ 186 bilhões) em 2025 e deve continuar elevado até o fim da década.

Encontro de chefes de Estado da Nova Rota da Seda, Beijing, abril de 2019 (Foto: RIA Novosti/Kremlin)

O impacto é mais severo entre os países com menor renda, que destinam parcela crescente de seus orçamentos à dívida. Segundo o levantamento, 3,3 bilhões de pessoas vivem hoje em países que gastam mais com juros do que com saúde ou educação. Desde 2011, a fatia das receitas públicas usada para quitar dívidas externas dobrou.

Apesar da retração global, a China ainda financia aliados estratégicos e parceiros comerciais relevantes. Entre os beneficiários estão vizinhos como Paquistão e Mongólia e países ricos em minerais críticos, como Congo DR, Argentina, Brasil e Indonésia. Em 2023, essas nações concentraram mais de um terço de todo o dinheiro emprestado por Beijing.

Em 54 dos 120 países analisados, os pagamentos à China já superam o total pago aos credores do Clube de Paris, que reúne as maiores economias ocidentais. Nos países mais pobres, Beijing concentra mais da metade de toda a dívida bilateral. Ainda assim, resiste a reestruturar os contratos, preferindo adiar vencimentos em vez de conceder perdão parcial.

O relatório destaca que o crescimento dos pagamentos à China ocorre justamente quando a ajuda financeira dos países ocidentais encolhe, em um período de alta necessidade de apoio externo por parte das economias em desenvolvimento. Esse cenário, marcado por orçamentos pressionados, restrição ao crédito e retração da cooperação internacional, tende a atrasar o cumprimento de metas sociais e a intensificar os riscos de instabilidade econômica até 2030.

“À medida que Beijing assume o papel de cobrador de dívidas, os governos ocidentais permanecem focados internamente, com a ajuda em declínio e o apoio multilateral em declínio”, diz o texto. “Sem novo financiamento concessional ou alívio coordenado, a pressão orçamentária se intensificará ainda mais, agravando os retrocessos no desenvolvimento e aumentando os riscos de instabilidade.”

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