“Essa COP-30 só vai acontecer se a gente deixar”, diz líder indígena na Seduc

Belém vive um momento de tensão e intensos confrontos políticos em meio à ocupação da Secretaria de Educação (Seduc) por lideranças indígenas. O centro do impasse está no duro diálogo entre representantes dos povos originários e um emissário do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), que acabou sendo retido pelos manifestantes após um debate acalorado. “Porque aqui é a imagem do Brasil, é aqui que é para acontecer essa COP, se a gente deixar. Porque você tem visto que a gente está massificando a luta”, afirmou uma líder indígena. Outra liderança, Luana Kumaruara, completou: “se o governador quer fazer a COP 30, ele precisa dialogar com os povos dos rios e das florestas”.

As acusações também miram sobre o governo do presidente Lula, que até agora não disse uma palavra sequer sobre a ocupação da Seduc por 400 indígenas que representam mais de 20 povos do Pará. A fraca e quase nula atuação no caso de Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, também contribui para a insatisfação.

Em vez de contribuir para uma solução, a ministra, por meio de uma conferência de vídeo com os indígenas, provocou mais descontentamento. A ideia dela de restabelecer o artigo 2º de uma antiga lei, enquanto governo ganha tempo para criar outra legislação mais adequada à educação nas escolas indígenas foi rejeitada sob críticas. O movimento quer a revogação total da Lei 10.820/2024.

As críticas, contundentes, também miraram diretamente o governador do Pará, Helder Barbalho, acusado de negligência e apatia frente às demandas históricas das comunidades indígenas. Helder não dialoga e foge das cobranças. Passou 15 dias fora do Brasil, passeando, e completou o tempo de “férias” para posar de defensor da Amazônia em Davos, no Fórum Mundial, onde sua presença não tinha qualquer relevância.

Enquanto isso, na Seduc, a tensão ganhou contornos ainda mais dramáticos durante um pronunciamento inflamado de lideranças indígenas. Dirigindo-se ao representante do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), os manifestantes expuseram o que consideraram uma ausência de compromisso. “Você ficou no primeiro dia aqui e depois sumiu. Eu até achava que você não estava mais aqui. Ontem vimos que você estava numa coletiva de imprensa. Se você veio pra ficar com a gente, a partir de agora você vai ficar aqui”, disparou uma liderança, em tom de desafio.

O representante, que tentou justificar sua presença e prometer suporte, foi imediatamente confrontado com cobranças incisivas. Os indígenas o acusaram de negligência e articularam uma exigência categórica: que permanecesse com eles e utilizasse suas conexões diretas para acionar a ministra Sônia Guajajara e o presidente Lula. Segundo os manifestantes, “a ministra precisa falar com Helder. Ela não é amiga do Helder? Não fica tirando foto por aí com o Helder?”

A crise, que já se estende por semanas, revelou não apenas um abismo entre o discurso oficial e a realidade dos territórios indígenas, mas também a insatisfação com o governador do Pará. Helder Barbalho foi alvo de duras críticas, acusado de abandonar as pautas dos povos originários e de privilegiar uma política midiática e ineficaz. “Aqui é a imagem do Brasil. Vocês botam na mídia que está bonito, que fizeram, mas os garimpeiros ainda estão lá. Chega! Eu não quero ficar mais uma semana aqui. Meus parentes estão reclamando”, enfatizou outro manifestante.

A situação escalou quando os manifestantes deixaram claro que não iriam permitir a saída do representante do MPI do prédio. Eles condicionaram qualquer negociação futura à presença de Sônia Guajajara e Lula, além de uma resposta concreta do governo estadual. “Se entrar a polícia aqui, prender nossas lideranças ou bater em qualquer indígena, os culpados serão os parentes que estão no governo e que não sabem mediar”, declararam.

As críticas também abordaram diretamente a gestão do ex-ministro da Educação, Rosieli Soares, atualmente à frente da Seduc. Ele foi acusado de racismo e de adotar práticas que dividem o movimento indígena. A indignação foi evidente: “O secretário nunca colocou os pés no nosso território. Esses dois dias ele tira foto para dizer que é amigo de indígena. Ele é um racista”.

Luta, pressões e riscos

Esse enfrentamento explicita o esgotamento de um diálogo que, para os manifestantes, se limita a gestos superficiais e não enfrenta as questões estruturais que afligem as comunidades indígenas. A insatisfação com a inção governamental é um alerta claro: os povos originários estão dispostos a intensificar a luta, mesmo sob pressões e riscos.

O embate coloca o governador Helder Barbalho e o governo federal em uma posição delicada. A urgência de ações concretas é evidente, sob pena de aprofundar o descrédito nas instituições e acirrar ainda mais os conflitos em um estado que é epicentro das questões socioambientais no Brasil.

A imagem de um governo “hispânico” — termo usado pelos manifestantes para criticar uma postura colonialista — reflete um simbolismo que vai além das palavras, evocando um passado de violações e resistências que se perpetua no presente.

Diante disso, o que está em jogo não é apenas a solução de pautas específicas, mas a reafirmação do compromisso do Estado com as demandas históricas dos povos indígenas, sob pena de transformar a Seduc em um símbolo de um diálogo que não acontece.

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