Há algo estranho na Lua

Um inédito estudo demonstrou que o lado próximo da Lua é mais diferente do que pensávamos. O interior da face lunar que vemos é mais quente do que o lado distante, o que pode justificar a diferente de formatos entre as partes do astro. As descobertas podem ser essenciais em futuras missões lunares.

Pesquisadores analisaram dados coletados pela missão Gravity Recovery and Interior Laboratory (GRAIL), da NASA. Nesse projeto, cientistas da agência americana construíram um mapa em alta resolução do campo gravitacional lunar. Foi a partir dessas informações que a equipe da atual pesquisa notou grandes diferenças entre os dois lados.

“Nosso estudo mostra que o interior da Lua não é uniforme: o lado voltado para a Terra (o lado próximo) é mais quente e geologicamente mais ativo nas profundezas do que o lado oculto. Essa diferença está ligada à história vulcânica da Lua e explica por que os dois lados parecem tão diferentes”, disse Dr. Ryan Park, autor principal do estudo e pesquisador, ao site IFL Science.

O lado oculto da Lua tem intrigado os astronomos por séculos. (Imagem: Geek3 / Wikimedia Commons)

Lado próximo tem crosta “mácia” 

O grupo calculou os números de Love da Lua – valores que demonstram como um astro se deforma com a força da gravidade que o afeta. Isso os permitiu entender mais sobre a estrutura interna do satélite natural da Terra.

Eles puderam gerar um mapa com os dados coletados. “Nosso estudo fornece o mapa gravitacional mais detalhado e preciso da Lua até o momento”, explicou o pesquisador. Com a representação, os cientistas puderam observar a fundo as diferenças entre as faces.

Os lados têm topografias diferentes, crostas com grossuras distintas e variam na atividade tectônica quente acontecendo em seu interior. Segundo os pesquisadores, essas diferenças podem vir de variação nas profundezas do astro, fazendo com que uma face seja mais quente e tenha maior atividade vulcânica do que a outra.

O estudo sugere que o manto abaixo do lado próximo possa ser mais “macio” em 2 ou 3% se comparado ao lado distante. Isso faz dele cerca de 100 a 200 °C mais quente, provavelmente pela presença de materiais radioativos como o tório e o titânio, formados por atividade vulcânica entre 3 e 4 bilhões de anos atrás.

Mapa gravitacional da Lua
A missão GRAIL gerou um mapa gravitacional em alta resolução da Lua. (Imagem: NASA/JPL-Caltech/MIT/GSFC)

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GRAIL: missão inovou em pesquisas lunares

A descoberta foi possível devido à tecnologia de ponta da missão GRAIL. A NASA lançou as naves Ebb e Flow em 2011, que orbitam a Lua coletando informações sobre seu campo gravitacional. Em 2012, elas caíram no astro e o projeto chegou ao fim, mas seus dados são utilizados em pesquisas até hoje.

“Conforme as duas espaçonaves voavam sobre áreas de gravidade crescente, as sondas se moviam ligeiramente em direção à outra e se afastavam dela, enquanto um instrumento media mudanças em sua velocidade relativa, fornecendo informações importantes sobre o campo gravitacional da Lua”, disse a agência.

A equipe do estudo espera que as descobertas sejam úteis para o retorno da humanidade à Lua. O mapeamento gravitacional feito pelos pesquisadores poderá ser utilizada em futuras viagens lunares.

“O mapa aprimorado é uma base fundamental para o desenvolvimento de sistemas de Posicionamento, Navegação e Temporização (PNT) lunares, essenciais para o sucesso de futuras missões de exploração lunar”, concluiu o Dr. Park.

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